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01-2024

Morre o destemido Peter Magubane, que enfrentou os duros tempos do apartheid sul-africano com sua câmera

A câmera como arma contra o preconceito, a humilhação e as injustiças. Foi assim que o sul-africano Peter Magubane documentou a era do regime de apartheid na África do Sul durante 40 anos. Fikile Magubane, filha do destemido fotógrafo, confirmou a morte do pai no dia 2 de janeiro de 2024, aos 91 anos. Magubane ganhou fama mundial pelas suas imagens marcantes da crueldade e da violência que os negros sul-africanos enfrentaram durante quatro décadas sob o apartheid.

Caixões com os 30 mortos pela polícia do apartheid no massacre de Sharpeville, em 1960, na África do Sul _Peter Magubane

Ao mostrar ao mundo o que ocorria África do Sul naqueles anos terríveis (de 1948 a 1994),  Magubane foi punido pelas autoridades locais, sendo regularmente assediado, agredido, preso – passou 586 dias em confinamento solitário. Ele contou que foi baleado 17 vezes com chumbo pela polícia do apartheid durante um trabalho fotográfico, foi espancado e teve o nariz quebrado quando se recusou a entregar os filmes que fez dos levantes de Soweto, em 1976 – quando milhares de estudantes negros protestaram contra a lei do governo que tornava a língua africâner obrigatória nas escolas.

Flagrante de policial a paisana atirando aleatoriamente contra as pessoas pela janela de um carro descaracterizado, em Soweto, em 1976_ Peter Magubane

Magubane ganhou destaque como um dos poucos fotógrafos negros a ter coragem de fotografar a era repressiva do apartheid depois de se juntar à revista sul-africana Drum em 1955. Uma das suas imagens mais famosas, feita um ano depois em um subúrbio rico de Joanesburgo, mostrava uma menina branca sentada em um banco de praça com uma placa que dizia “Apenas europeus”, enquanto uma ama negra sentada atrás dela ajeitava seus cabelos.

Na mais famosa imagem do fotógrafo sul-africano, o preconceito racial estampado no banco da praça_Peter Magubane

Magubane registrou décadas de apartheid na África do Sul, incluindo o massacre de Sharpeville, em 1960, o julgamento do líder Nelson Mandela em 1964 e a revolta de Soweto em 1976. Ao longo da carreira, ele foi preso inúmeras vezes e sujeito a uma proibição de cinco anos que o impediu de trabalhar ou mesmo de sair de casa sem autorização policial. Confrontado com a opção de deixar a África do Sul para se exilar por ser um homem marcado pelo regime do apartheid, Magubane escolheu corajosamente ficar e continuar a fotografar. “Combaterei o apartheid com a minha câmera”, teria dito na ocasião.

Nelson Mandela em ação contra o regime do apartheid em 1960, dois anos antes de ser preso­_Peter Magubane

Peter Magubane nasceu em 1932 no subúrbio de Vrededorp, em Joanesburgo. Foi nomeado fotógrafo oficial de Nelson Mandela assim ele saiu da prisão, em 1990, e teve a oportunidade de fotografar o líder sul-africano até ele ser eleito o primeiro presidente negro da África do Sul nas eleições históricas de 1994, que encerraram definitivamente o tempo do apartheid.

Peter Magubane e Nelson Mandela nos anos 1990: ele se tornou fotógrafo oficial  do líder sul-africano até ele ser eleito presidente, em 1994_Divulgação

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