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04-2024

Palestino Mohammed Salem ganha o prêmio de Foto do Ano no World Press Photo 2024

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A World Press Photo anunciou os ganhadores do seu prestigiado concurso de fotojornalismo mundial. Mohammed Salem, de 38 anos, fotojornalista palestino radicado na Faixa de Gaza que trabalha para a agência Reuters, foi o vencedor da categoria Foto do Ano na imprensa mundial com a cena dramática que mostra a palestina Inas Abu Maar com o corpo da sobrinha Sally, de 5 anos, após ela, a irmã e mãe serem mortas por um míssil de Israel que caiu sobre casa da família em Khan Yuniz, Gaza. Salem encontrou Inas agachada no chão, abraçando a criança, no necrotério do Hospital Nasser, onde os moradores iam em busca de parentes desaparecidos.

A reportagem fotográfica vencedora em História Fotográfica do Ano é da sul-africana Lee-Ann Olwage, que analisa a demência e o estigma que a rodeia em Madagáscar. Ela conta a história de Paul Rakotozandriny, o “Dada Paul”, de 91 anos, que vive com demência há 11 anos e é cuidado por sua filha, Fara Rafaraniriana. Durante nove desses anos, ninguém sabia que Dada Paul estava doente, já que seus dez filhos presumiram que ele tinha “enlouquecido” ou atribuíram os sintomas ao consumo excessivo de álcool. Apenas Fara percebeu algo diferente quando seu pai, um motorista aposentado, não conseguiu encontrar o caminho de casa depois de um dia buscá-la no trabalho. Ela nunca tinha ouvido falar dos termos “demência” ou Alzheimer, mas foi aconselhada a contatar a Masoandro Mody, única organização em Madagáscar que fornece apoio e formação a familiares de pessoas que vivem com demência. A organização deu informações e apoio de que necessitava para cuidar de Dada Paul.

Como a série “Os dois muros”, o primeiro lugar em Projeto de Longo Prazo foi para Alejandro Cegarra, de 35 anos, fotógrafo venezuelano que trabalha como freelancer para publicações como The New York Times, Bloombnerg, The New Yorker, National Geographic e The Washington Post. Ao morar no México, Cegarra vem acompanhando desde 2018 as políticas de imigração mexicanas, que passaram por uma mudança significativa: de nação historicamente aberta a migrantes e requerentes de asilo na sua fronteira sul, se transformou num país que aplica políticas de imigração rigorosas. Vários fatores recentes – mudanças na políticas nos EUA, a imposição de protocolos Covid-19 e a instabilidade política e econômica nas Américas Central e do Sul – contribuíram para uma crise contínua nas fronteiras do México. Além disso, a implementação pelos EUA de políticas de deportação acelerada, inicialmente sob o pretexto da pandemia, que criminalizava repetidas tentativas de atravessar a fronteira, deixou milhares de pessoas retidas nas cidades fronteiriças mexicanas. Essas áreas, muitas vezes sob o controle de autoridades corruptas e de cartéis de droga, obrigam os migrantes e os requerentes de asilo a esperar indefinidamente em campos improvisados, expostos a riscos acrescidos de violência e a condições de vida precárias.

A ucraniana Julia Kochetova ganhou o Open Format Award de 2024 pela sua inteligente visão multimídia da guerra na Ucrânia. Kochetova, 31 anos, fotojornalista e documentarista, mora em Kiev e seu projeto, batizado de “Guerra Pessoal”, é baseado na web e tem um estilo de diário para mostrar ao mundo como é viver com a guerra como uma realidade cotidiana. Ao combinar imagens documentais com poesia e música, ela proporciona não só um vislumbre íntimo da vida sitiada, mas também uma visão mais profunda de como a guerra está sendo processada e como, apesar da tragédia, as experiências podem ser compartilhadas. A abordagem interdisciplinar de Kochetova serve para fundamentar as duras realidades da guerra nas experiências subjetivas do fotógrafo. No seu conjunto, o projeto é uma exploração complexa do impacto emocional e psicológico do conflito, expressando não apenas perda, dor, trauma, desespero e resignação, mas também esperança e resiliência.

Brasileiro premiados

Na fase regional do World Presse Photo, o prêmio de Foto do Ano na América do Sul ficou com o brasileiro Lalo de Almeida, fotojornalista colaborador da Folha de S.Paulo: uma imagem dramática da Amazônia durante a fase aguda da seca na região. Ela retrata um retrata um pescador solitário caminhando no leito de um afluente do Rio Amazonas em Tefé (AM), representando visualmente a extensão da maior estiagem  já vista na Amazônia.  Lalo já havia sido premiado no World Press Photo em 2022 na categoria Projetos de Longo Prazo com o trabalho “Distopia Amazônica”, no qual documentou ao longo de 12 anos os efeitos sociais, políticos e ambientais do desmatamento, mineração e exploração de recursos naturais na região. 

Já a fotojornalista Gabriela Biló, da sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília (DF), obteve a Menção Honrosa na América do Sul pelo corajoso trabalho “Insurreição”, que documenta a reação dos bolsonaristas à derrota de seu candidato à presidência da república, do sofrimento quando foi anunciada a vitória de Lula em outubro de 2022 à invasão à Praça dos Três Poderes em Brasília (DF) no dia 8 de janeiro de 2023 para apoiar uma tentativa de golpe de Estado. “Nesse trabalho, vemos como a fotógrafa navega de forma inteligente em um ambiente tenso e depois constrói uma edição precisa para dar conta do que aconteceu durante a tentativa de golpe no Brasil. A Menção Honrosa foi concedida pensando em todas as mulheres fotojornalistas que dia após dia se colocam em risco para cobrir as notícias”, declara a argentina Julieta Escardó, presidente do júri do World Press Photo na América do Sul.

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