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12-2023

Exposição apresenta o olhar de Rogério Reis no cotidiano da orla do Rio de Janeiro

Em cartaz no Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial até 24 de março de 2024, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a exposição “O que se passa” reúne um trabalho mais recente de Rogério Reis. Nessa mostra, o renomado fotógrafo carioca navega com maestria entre o fotojornalismo e a arte, tanto no Brasil quanto no exterior, apresentando séries de obras, imagens e filmes que transitam entre o óbvio e o inimaginável, produzidos desde o período da pandemia em saídas diárias às praias da zona sul do Rio de Janeiro – o inclui um olhar direcionado às diversas comunidades que frequentam as orlas do Rio.

Flagrante típico de que perambula pelas ruas à caça de imagens que passam despercebidas pela maioria das pessoas

A exposição engloba mais de 100 obras, divididas em seis séries, e oferece uma visão profunda das interações com a cidade que o artista adquiriu ao longo de seus mais de 45 anos de trajetória.  Sua “residência artística”, por assim dizer, é a rua, e, no contexto desta exposição, as areias das praias cariocas. “Tenho desinteresse por aspectos contemplativos da paisagem e busco ressignificar o que aparenta ser banal e pouco explorado pela vasta crônica visual das praias da zona sul do Rio de Janeiro”, diz ele. Assim objetos funcionais, equipamentos esportivos, descartes, vestígios das ressacas e “gambiarras” que facilitam a vida dos banhistas e profissionais das areias estão no visor câmera de Rogério Reis.

Os trabalhadores da orla carioca também estão no foco do Rogério Reis na sua documentação praiana

Fotógrafo independente há quatro décadas, depois de passar pela chamada “grande imprensa” (Jornal do Brasil, O Globo e Veja e) e também pela histórica Agência F4 (na qual aprendeu a pesquisar e desenvolver os próprios temas durante os anos 1980), ele não aderiu à fotografia engajada em voga quando começou a trabalhar, nos anos 1970. “Sua linguagem estaria talvez mais próxima à poesia marginal e ao movimento de contracultura que surgia com o cinema novo, do que a arte de denúncia; ou seja, tem uma pegada existencialista e crítica, sem ser politicamente dogmática, com foco na liberdade de expressão, e atravessada por um fino senso de humor, de quem não se quer sério”, afirma Paula Terra-Neale, curadora da exposição.

No comércio informal da orla carioca, as “gambiarras” surgem para facilitar o transporte dos produtos

As imagens, séries e vídeos da mostra “O que se passa” estão distribuídas em duas grandes galerias do Paço Imperial e apresenta revela o que muitas vezes escapa à atenção de todos, enfatizando a presença de corpos, mesmo quando ausentes. Documentam ainda as comunidades de trabalhadores que sobrevivem na região costeira, abrangendo vendedores ambulantes e catadores de latas, que são representados nas montagens efêmeras, gambiarras, amarrações e “burrinhos-sem-rabo” (carrinhos improvisados para transporte de objetos) que estão espalhados ou empilhados ao longo da orla. Além disso, traz outras comunidades que veem a praia como um espaço exclusivamente de lazer, e até mesmo seres não humanos, como os cachorros.

A orla carioca é um espaço democrático onde várias comunidades se encontram para desfrutar o mar

Rogério Reis nasceu no Rio de Janeiro, em 1954 e formou-se em jornalismo pela Universidade Gama Filho em 1978, quando já trabalhava há um ano como fotógrafo do Jornal do Brasil. Teve uma breve passagem pelo jornal O Globo no ano seguinte, antes de retornar ao Jornal do Brasil, onde permaneceu entre 1980 e 1982, passando depois à revista Veja (1983 e 1984). Entre 1985 e 1989 integrou a seção carioca da agência F4 e, no final de 1989 fundou, com Claus Meyer e Ricardo Azoury, a Agência Tyba. Também foi editor de fotografia do Jornal do Brasil de 1991 a 1996. Um fato curioso na vida de Rogério Reis é que ele inspirou o personagem do fotógrafo de mesmo nome do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, baseado no livro de Paulo Lins.

Cachorro, Praia do Diabo

As areias do Rio não são ocupadas apenas por humanos, mas também por animais de estimação, principalmente os cães

Serviço: Exposição “O que se passa”, de Rogério Reis, com curadoria de Paula Terra-Neale; em cartaz até 24 de março de 2024 no Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48, centro do Rio), com visitação de terça a domingo (e feriados), das 12h as 18h; entrada gratuita.

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