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12-2023

As grandes imagens do fotojornalista Orlando Brito agora fazem parte do acervo do IMS

O Instituto Moreira Sales (IMS) encerra 2023 com a incorporação de mais um importantíssimo acervo fotográfico: o do grande fotojornalista Orlando Brito (1950-2022). Depois da fotógrafa de arte e cultura Vania Toledo, em setembro, e do fotojornalista e ativista Januário Garcia, em novembro, o IMS passa a ser responsável por organizar e manter um conjunto de cerca de 400 mil fotografias de Brito, distribuídas em diferentes suportes, além de equipamentos fotográficos, documentação pessoal e profissional, premiações e publicações.

Orlando Brito cobriu 18 dos 21 anos de ditadura no Brasil e fez imagens icônicas

Brito nasceu em 1950 em Janaúba, norte de Minas Gerais. Em 1957, mudou-se com sua família para Brasília (DF), onde, aos 14 anos, começou a trabalhar no laboratório fotográfico do jornal Última Hora. Em 1965, aos 15 anos, já no período da ditadura militar, fez sua primeira cobertura política: fotografou a visita do arcebispo da capital federal ao então presidente, o marechal Castelo Branco. A ordem partiu Alberico de Souza Cruz, então editor-chefe da sucursal da Última Hora: “Ah, manda esse moleque lá”. Assim, o jovem contínuo, aprendiz de fotógrafo, iniciava sua jornada de 57 anos usando a câmera como um cinzel para esculpir com a luz imagens que se tornaram referência na editoria de política, como o brilhante retrato de perfil de Ulysses Guimarães, capa da revista Veja em 1992.

O fotojornalista focava em detalhes para passar sua mensagem no período de governo militar

Em 1968, Brito transferiu-se para O Globo, onde consolidou sua trajetória no fotojornalismo. Trabalhou ainda por quase duas décadas na revista Veja, depois no Jornal do Brasil e na revista Caras. Em 1999, fundou sua própria agência de notícias, a ObritoNews, sediada em Brasília, que manteve ativa até sua morte, em março de 2022. Foi o primeiro fotojornalista brasileiro e ganhar o prêmio World Press Photo em 1979 e recebeu ainda 11 prêmios Abril.

O então presidente do Brasil, general Ernesto Geisel, flagrado durante um passeio na praia nos anos 1970

Brito cobriu 18 dos 21 anos do período da ditadura militar e toda a fase de redemocratização. Produziu retratos icônicos dos mais importantes políticos brasileiros. “O fotógrafo deve cuidar bem de seu ofício e de seus personagens. Sou um fotógrafo do poder e o que eu faço é tentar retratar a alma dessas pessoas. Fotografia de político tem muito mais de futuro do que de passado ou presente”, dizia. Algumas imagens da recente história do Brasil podem ser vistas nos livros que editou: Perfil do Poder (1982), Senhoras e Senhores (1992), Poder, Glória e Solidão (2002), Iluminada Capital (2003) e Corpo e Alma (2006).

A famosa foto do deputado Ulysses Guimarães que foi capa da revista Veja em 1992 após a morte do político

Em seu trabalho cotidiano, acompanhou a rotina de todos os presidentes, de Castello Branco (1965) a Jair Bolsonaro (2022), sempre em busca dos bastidores do poder e driblando o cerceamento à liberdade de expressão. Também documentou edições da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Clicou ainda manifestações, incluindo o palanque das Diretas Já, além de festas populares e religiosas. Viajou ainda diversas vezes ao Território Indígena do Xingu, onde registrou a cerimônia do Quarup.

A sutileza para mostrar a censura e o controle de informação na ditadura

Com a chegada ao IMS, as imagens do fotógrafo serão preservadas, digitalizadas e divulgadas. Seu acervo também se soma ao de outros fotojornalistas essenciais para a história do país, cujas obras estão sob a guarda do IMS, como José Medeiros, Evandro Teixeira e Januário Garcia. O trabalho de Brito pode ser visto ainda no site Testemunha Ocular, dedicado ao fotojornalismo, lançado pelo IMS em 2022. Durante a idealização do site, Brito inclusive colaborou com o projeto, indicando diversos nomes do fotojornalismo brasileiro que passaram a integrar a plataforma.

Orlando Brito praticou o fotojornalismo ligado à política por 57 anos

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