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05-2024

IMS Paulista inaugura mostra com fotos icônicas do mestre Josef Koudelka

O tcheco Josef Koudelka, um dos grandes representantes da tradição humanista e poética que dominou a fotografia europeia na segunda metade do século 20, terá três de seus mais icônicos trabalhos exibidos pelo IMS (Instituto Moreira Salles) da Avenida Paulista, em São Paulo (SP).  A exposição Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios será aberta em18 de maio e estará em cartaz até 15 de setembro de 2024. O mestre Koudelka  virá para a inauguração da mostra e participará do evento de abertura, no dia 18, às 11h, em uma conversa sobre a sua obra com a jornalista Dorrit Harazim – o evento é gratuito e aberto ao público, com distribuição de senhas 1 hora antes.

Portugal, 1976, da série “Exílios” © Josef Koudelka/Magnum Photos

Com curadoria do próprio artista e organizaçãode Samuel Titan Jr. e Miguel Del Castillo, a mostra traz na íntegra as séries Ciganos (com 111 fotografias) e Exílios (74 obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes Decorativas de Praga, na República Tcheca. Também poderão ser vistas 11 imagens da invasão de Praga, então capital da Tchecoslováquia, pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968 – evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como “Primavera de Praga”.

Romênia, 1968, da série “Ciganos” © Josef Koudelka/Magnum Photos

Ciganos foi a primeira série que Koudelka dedicou a um único tema. Ele trabalhava como engenheiro aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos. Suas fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia. Nesses trabalhos, sua intenção não era criar um relato preciso e objetivo da vida dos ciganos na Europa Central da época, e sim registrar sua visão pessoal, em poderosas histórias contadas por intermédio de imagens.

Festival de música, Strážnice, Tchecoslováquia, 1966, da série “Ciganos” © Josef Koudelka/Magnum Photos,

Jáa imagens de Exílios começaram a ser produzidas a partir de 1970. Nesse ano Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas condições políticas em seu país. Para poder viajar e fotografar, vivia modestamente. Em suas viagens constantes – por Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Grã-Bretanha –, retratou o povo romani, as celebrações religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana. São fotos que dão pleno testemunho da alienação e da busca pela identidade de uma vida europeia em vias de desaparecer. Registrou também espaços desabitados, animais perdidos em áreas densamente construídas, paisagens e naturezas-mortas.

Guadix, Granada, Andaluzia, Espanha, 1971, da série “Exílios”. © Josef Koudelka/Magnum Photos

No caso das imagens da invasão soviética, elas ocorreram por impulso, já que Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista. Porém, foi a campo documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de Varsóvia. Ao longo de sete dias dramáticos, criou uma série espetacular, considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do século 20. Para além da tragédia nacional, as imagens feitas naquela ocasião se tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade.

Resistência à invasão de Praga pelas forças do Pacto de Varsóvia, Tchecoslováquia, 1968. © Josef Koudelka/Magnum Photos

Contrabandeadas para fora da Tchecoslováquia, as fotos chegaram à agência Magnum, nos Estados Unidos, fundada por, entre outros, Henri Cartier-Bresson. O colega francês diria, sobre o trabalho de Koudelka, ser “um esplendor de sensibilidade, força e honestidade”. No primeiro aniversário da invasão e sem o conhecimento do autor, elas foram publicadas em jornais e revistas do mundo todo. Buscando proteger o fotógrafo e sua família, a Magnum creditou as fotografias apenas com as letras P.P. (Prague Photographer, “fotógrafo de Praga”). No mesmo ano, o Overseas Press Club dos Estados Unidos agraciou o “fotógrafo tcheco anônimo” com a prestigiosa Medalha de Ouro Robert Capa. Kouldelka só foi admitir publicamente que tinha sido ele o autor das fotos da invasão quando houve sua primeira grande exposição, em 1984, na Hayward Gallery, em Londres. Isso, contudo, somente depois da morte de seu pai, quando a informação já não colocava sua família em perigo. Na Tchecoslováquia, essas fotos só foram publicadas 22 anos depois da invasão, em 1990, num suplemento especial do semanário Respekt.

Praça Venceslau, Praga, Tchecoslováquia, 1968. © Josef Koudelka/Magnum Photos

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