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06-2017

O olhar que vem da primeira fila

Valério Silveira ficou encantado ao ver a bailarina Ana Botafogo em ação durante uma apresentação no Festival Internacional de Dança da Amazônia (Fida), em Belém (PA), em 2010. Os movimentos da artista hipnotizaram o fotógrafo, que não conseguia parar de registrar a coreografia – ora com a velocidade lenta para capturar os desenhos dos passos, ora com velocidade rápida para congelar os movimentos. Foi dali que surgiu a série De Corpo & Alma, que Valério amplia a cada espetáculo a que vê.

Nascido em Natal (RN), Valério foi morar na capital paraense ainda criança. Apaixonado por arte, cursou Artes Visuais pela Universidade da Amazônia (Unama). A fotografia entrou como hobby na vida de Valério. No começo, ele fotografava apenas para a imagem servir como base de desenhos e pinturas. Depois de participar de uma oficina de pinhole com o fotógrafo Miguel Chikaoka, em 2007, o interesse pela área foi despertado. “Descobri que poderia pintar com a luz”, lembra.

Admirador do trabalho do paraense Luiz Braga, Valério comprou uma Nikon D300 do profissional para começar a fotografar – foi a sua primeira câmera reflex digital. Dedicado, começou a fazer cursos de fotojornalismo, fotografia humanística e de moda; e a praticar, muito. Ele registrava tudo que podia e não saía de casa sem o equipamento a tiracolo. O empenho na área lhe rendeu duas menções honrosas nas edições de 2011 e 2012 do Concurso Universitário de Fotografia, promovido por Fotografe, e um segundo lugar no recente Concurso Fotografe 20 Anos.

Da cadeira

Valério se interessa por diferentes manifestações artísticas, mas sem qualquer aptidão para dança, decidiu se aproximar da área por meio da fotografia. Sem coordenação para movimentar o corpo, prefere trabalhar com a arte sem que precise se levantar da cadeira, ou seja, ele registra espetáculos de dança sentado.

O fotógrafo costuma assistir o mesmo espetáculo pelo menos duas vezes. Na primeira, apenas presta bastante atenção na coreografia atento ao que pode lhe render uma boa imagem. Na segunda, leva a câmera e registra todos os movimentos possíveis. Para fotografar de perto os passos dos bailarinos, ele sempre compra um ingresso na primeira fileira de cadeiras do teatro.

Acomodado no assento, dispara a câmera discretamente, sempre sem flash. Valério divide a coreografia em duas partes. As imagens dos primeiros movimentos são feitas em alta velocidade e, depois, ele registra os passos em baixa. “Todas as minhas fotos são dos bailarinos durante a execução da peça. Não gosto de fazer fotos posadas deles”, conta.

Depois que o espetáculo termina, começa o trabalho de pós-produção. Valério sobrepõe as fotos da coreografia compondo imagens com os desenhos dos movimentos e das poses congeladas; ajusta a saturação e corrige a luz no Photoshop. E, embora capriche, Valério diz que não comercializa os trabalhos dessa série. Elas fazem parte de seu trabalho pessoal.

A renda é assegurada com aulas de Arte que dá em escolas e oficinas de desenho e de fotografia que ministra em seu estúdio. “O trabalho De Corpo & Alma traz um pouco do que sinto e vejo na dança. Algo que transcende o limite do corpo, que perpassa pelo ato do espírito, um pouco de magia materializada, a que apenas assisto e guardo na minha memória”, define.

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