A fotografia via inteligência artificial provocou mais uma polêmica, dessa vez em um dos principais concursos do mundo, o Sony World Photo. Para testar o quanto uma imagem gerada por IA pode ser convincente a ponto de enganar jurados de um concurso e assim discutir o uso da tecnologia na produção de imagens, o alemão Boris Eldagdsen inscreveu uma foto que ele criou por IA (que mostra duas mulheres em tons de sépia) e foi mais longe do que imaginava. Anunciado vencedor na categoria Criação Aberta do concurso da Sony, ele recusou o prêmio e tomou a iniciativa de revelar que a imagem não preenchia os requisitos do regulamento, pois havia sido gerada por inteligência artificial.

Eldgadsen deixou os organizadores em má situação, pois contou ter informado que a imagem não era autêntica, mas ouviu deles que deveria ficar com o prêmio de qualquer forma, talvez para evitar que a capacidade dos jurados em perceber a farsa fosse exposta. Para contornar esses problemas, já há concursos adicionando a categoria Imagens por IA às demais, o que deve ser uma iniciativa cada vez mais comum daqui para frente.

Em entrevista ao jornal inglês “The Guardian”, o fotógrafo alemão diz que a imagem é retrato de duas mulheres, a mais velha atrás com as mãos, gastas a ponto de ficarem disformes, sobre os ombros da mais jovem. “Pode ser o dia do casamento”, diz ele – algo sugerido tanto na interação de quatro olhos atentos quanto na elegância sutil do vestido branco da talvez noiva. Mas desde que Eldagsen, de 52 anos, veio a público para revelar a verdade, os organizadores do concurso emitiu um comunicado dizendo: “Não sentimos mais que somos capazes de nos envolver em um diálogo significativo e construtivo com o fotógrafo”. 

Eldgadsen rebate: “Não sei por que eles se comportaram assim. Mas claramente eles se sentem enganados e tiveram seu discernimento estético questionado. Se você não sabe a diferença entre uma fotografia e uma imagem gerada por IA, é melhor ir para casa”. Segundo o “The Guardian”, Boris Eldagsen disse que, antes de ser informado de sua vitória, ele não forneceu nenhuma informação aos organizadores de que a imagem foi gerada por IA; já a organização diz que os juízes sempre souberam que era uma imagem criada usando elementos de IA.

O fato é que, quando bem feitas, as imagens de IA dificilmente podem não ser diferenciadas de uma fotografia. Eldagsen comenta: “Adoro fotografia, adoro gerar imagens com IA, mas percebi que não elas são a mesma coisa. Uma está escrevendo com luz, outra está escrevendo com prompts. Elas estão conectadas, a linguagem visual foi aprendida com a fotografia, mas agora a IA tem vida própria. Se as pessoas querem ficar em silêncio e não falar sobre isso, está errado”.