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06-2023

O talento de Júnior Atibaia, fotógrafo que se dedica a captar de cenas de rua

O fotógrafo Júnior Atibaia é um mestre em captar cenas do cotidiano nas ruas da cidade.  Mas foi somente depois de fazer a oficina (IN)visibilidades Urbanas, no Sesc da Bela Vista, em São Paulo (SP), ministrada por Alexandre Urch em 2018, que ele  assumiu ser realmente um street photographer. Criou coragem e mostrou o portfólio para o premiado Urch, referência no segmento. Perguntou se suas fotos estavam dentro do gênero e teve uma resposta empolgada que serviu como um batismo na área: “total de rua!”.

Contraluz, reflexos, cores fortes… detalhes que o olhar atento de Júnior Atibaia capta

Dono de um olhar atento e sensível quando sai para “caçar imagens” nas ruas de Atibaia (SP), ele explora bastante a contraluz, enxerga muito bem padrões e grafismos, compõe com eficiência, brinca com as cores, sabe esperar pelo momento decisivo e antevê cenas que podem render um flagrante de impacto. Usou por alguns anos o pseudônimo Júnior AmoJr – o segundo nome são as iniciais de Armando Malheiro de Oliveira Júnior. Mas, diante da dificuldade de as pessoas entenderem, lembrarem e escreverem o nome artístico, ele adotou Júnior Atibaia, muito mais fácil de memorizar e que era como o chamavam em exposições e cursos dos quais participava.

Nascido em São Paulo (SP), em 1966, a paixão pela fotografia é antiga: no Natal de 1981, ele ganhou de sua mãe uma Kodak Instamatic II, filme e mais dois livros de fotografia. Assim que abriu o presente, colocou o filme na câmera e correu para a rua. Viu uma moça passando em uma moto Honda CG 125, enquadrou e clicou: foi a primeira foto. Mas, em 1985, a morte do pai gerou uma série de acontecimentos na família que o afastaram do projeto de ser fotógrafo. A vida de Júnior seguiu outros rumos, como a mudança para Atibaia.

Sombras podem revelar imagens surreais, basta o fotógrafo estar ligado nas cenas

Com a morte da mãe, no final de 2010, ele recebeu uma pequena herança. Sua esposa, Vanessa, o convenceu a usar o dinheiro para comprar uma câmera e retomar o sonho de ser fotógrafo. Na procura por informações sobre câmeras e lentes, já em 2011, foi até uma banca de jornais e perguntou sobre revistas de fotografia. O jornaleiro indicou Fotografe e nela havia uma matéria sobre a Canon EOS Rebel T3i. Comprou a revista, leu o teste da câmera e decidiu que aquela seria sua primeira DSLR.

No mesmo ano, ele se filiou ao Clube Atibaiense de Fotografia (CAF), espaço bastante democrático, diz ele, que reúne entusiastas, profissionais e artistas com trabalhos reconhecidos na região. Como jamais se imaginou em um estúdio ou fotografando eventos (como casamentos), seu cotidiano é pegar a câmera e sair caminhando pelas ruas da cidade, no melhor estilo flâneur. No início, confessa que não sabia bem o que queria da fotografia. “Mas tinha a convicção de que precisava mostrar as fotos que viesse a fazer. O artista e fotógrafo Geraldo de Barros dizia que não valia a pena ver um incêndio sozinho, que era preciso chamar gente para ver também. Esse pensamento me norteia até hoje”, comenta.

Às vezes, a luz mostra ao fotógrafo uma pintura realista em cenas do cotidiano

Para Júnior Atibaia, um bom fotógrafo de cena de rua precisa saber se posicionar, integrar-se ao ambiente em que está, tanto em relação ao espaço físico quanto em relação às pessoas que ocupam esse espaço ou passam por ele. Ser bastante curioso, atento, manter a mente aberta e antecipar o que poderá ocorrer são outros atributos. “Ter paciência e saber quando é hora de partir também é fundamental. Penso no fotógrafo como um predador que devora com os olhos para alimentar sua alma”, define.

Mas não é só isso, continua, é preciso saber compor, criar uma imagem potente, que vai além de descobrir uma situação interessante. “É muito importante perceber como a luz funciona em determinado espaço, observar as sombras, as altas luzes, os reflexos, os detalhes, as cores, as linhas e os padrões… enfim, definir quais elementos vão contribuir para a mensagem que você quer passar e quais vão apenas poluir a composição”, ensina.

Reflexos no chão cinza se tornam coloridos e artísticos graças ao olhar do fotógrafo

Na sua caça de imagens, ele não segue planejamento rígido, mas fotografa quase todo dia. Microempresário na área de turismo, a fotografia não é sua única atividade. Por ser autônomo, tem certa liberdade e, se precisa fazer alguma coisa na rua, como pagar contas, fazer compras ou atender um cliente, aproveita e sai com a câmera. Mas há dias em que ele sai exclusivamente para fotografar, geralmente no meio da semana, para aproveitar a movimentação na cidade, especialmente próximo à rodoviária de Atibaia e imediações. “Prefiro fotografar na parte da tarde, especialmente a partir das 15h, próximo do período da hora dourada, em que a luz muda muito rápido, até começar a anoitecer”, afirma.

Nessas saídas, já ocorreu de ter de lidar com as pessoas que ficam agressivas, mas foram poucas vezes. Lembra que uma vez, no centro de São Paulo (SP), observou uma situação curiosa perto da portaria de um prédio. Apesar de meio escondido, uma pessoa que estava na portaria percebeu que ele fotografava e veio de modo bem agressivo para cima dele. “Mantive a calma e lembrei da oficina que fiz com o Alexandre Urch. Ele orientou que, se a gente estivesse fotografando no centro e surgisse um perrengue, para dizer que era aluno dele, que todo mundo o conhecia por lá. Foi o que fiz”. Ao perguntar se o homem agressivo conhecia Urch, a resposta veio de imediato: “O fotógrafo?”. Ao dizer que sim e que era aluno dele, o sujeito se acalmou, conversou amigavelmente e até posou para algumas fotos, informa ele.

O uso do bom-humor na fotografia de cena de rua é resultado de observação atenta

Na abordagem de personagens, ele diz que na maior parte das vezes fotografa sem que as pessoas percebam. Mas há situações em que vislumbra que o cenário escolhido pode render boas fotos e que ficará mais tempo por ali. Nesse caso, procura conversar com as pessoas que ocupam o espaço ou simplesmente sorri para elas e as cumprimenta. Algumas perguntam se ele é fotógrafo e como vai usar as fotos. Ele explica, mostra as fotos e vai se integrando ao ambiente. Com o tempo, as pessoas acabam esquecendo que ele está ali e tudo flui naturalmente. Existem ainda situações em que pede autorização para fotografar uma pessoa quando acredita que o melhor é que o personagem saiba que está sendo fotografado.

Nas suas andanças, ainda em 2011, ele começou a registrar aves que viviam nos lagos urbanos de Atibaia.  O editor-chefe de um site que veicula notícias sobre meio ambiente viu uma série de imagens que ele fez sobre aves feridas por anzol nos lagos, veiculadas no Facebook, e entrou em contato. Foi a primeira vez que suas fotos foram publicadas.

Em 2012, leitor da revista Fotografe, teve duas fotos publicadas na seção “Revele-se”. Uma delas mostrava um cachorro que olhava pelo buraco, em forma de coração, de um portão azul – com ela, que se tornou seu cartão de visitas, Júnior Atibaia ganhou vários prêmios depois.

O flagrante no cachorro de uma vizinha que lhe valeu prêmios e a primeira publicação na revista Fotografe

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