09-2017
A pintura com luz de um finlandês
Certa noite, o finlandês Janne Parviainen voltava a pé para casa e esqueceu de desligar a câmera. Ao chegar, percebeu que a velha Canon Ixus 40 ficou o tempo todo ligada em modo de longa exposição, e os postes acesos da rua haviam deixado traços de luzes. Essa imagem o conquistou instantaneamente. “Logo comecei a experimentar de que outras formas eu poderia usar luz e longa exposição para fazer imagens. Acabei me apaixonando por light painting”, conta. E isso se transformou em produções impressionantes.
Antes dessa descoberta inspiradora, o fotógrafo já fazia imagens tanto com a câmera quanto com o pincel. Formado em artes plásticas, Janne conta que a sua vida gira em torno da arte. O pai desde jovem tem como hobby principal a fotografia. A mulher, com quem tem três filhos, trabalha em uma galeria de arte, e os dois irmãos também estão envolvidos no meio. Ele, quando não passa noites inteiras fazendo produções de light painting, está no estúdio fazendo pintando quadros a óleo ou dando aulas de artes.
Adepto aos ideais anticapitalistas, o finlandês diz orgulhoso que não precisa do mais caro equipamento para fazer imagens de qualidade. Com uma Sony Alpha A200 com foco automático quebrado e uma lente 18-55 mm, fez todas as imagens que ilustram esta reportagem. O que conta mesmo, garante Janne, é a habilidade do fotógrafo em lidar com o que está disponível.
Luz na noite
É preciso ter muita paciência e concentração para fazer uma boa foto com light painting, ensina Janne. São geralmente de 10 a 50 minutos com o modo de longa exposição acionado, sem contar o tempo de preparação do cenário. Para a foto Guernica Now, inspirada na obra do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), ele precisou da ajuda da mulher, que foi a modelo. Depois de estudar bastante o cenário (um cômodo da casa), calculou o espaço que apareceria no enquadramento da câmera – algo que depois de anos de prática já faz automaticamente – e marcou os lugares onde a mulher se colocaria quando o diafragma da câmera estivesse aberto.
Caixas foram relocadas, móveis foram movidos e travesseiros foram retirados. Quando estava tudo pronto, Janne se pôs a trabalhar: foram 50 minutos fazendo traços na absoluta escuridão, preenchendo todo o quadro com os desenhos que fez. Tudo foi feito com led de luz branca (daí o efeito P&B). Para as fotos coloridas, são usadas led RGB, em que as cores podem ser alternadas.
O finlandês classifica esse tipo de imagem – as que as luzes riscam todo o quadro – como fotos “topográficas”, porque criam relevos. Nelas, todos os móveis e itens que estão dentro do enquadramento da imagem são cobertos com traços de luz. “Algumas vezes tenho de subir em cadeiras para fazer o teto e depois rastejar embaixo das mesas para cobri-las também”, conta. Quando precisa fazer a forma de um corpo, faz riscos horizontais em volta de uma pessoa, da cabeça aos pés. As figuras humanas são importantes nas imagens, segundo Janne, porque estimulam a imaginação do espectador a várias possibilidades de histórias.
Fora e dentro
Já para as locações, há duas possibilidades: quando está em casa, tenta visualizar novas cenas até ter certeza do que quer fazer, e aí trabalha para ajeitar o espaço da forma que planejou. Quando está fora de casa, ele cria conforme o local onde está, geralmente com a ajuda de seu irmão mais novo ou dos amigos – embora seja frequente criar imagens sozinho. “Sempre estou atento para encontrar lugares que me inspiram e me fazem pensar em uma imagem”, explica o fotógrafo. Foi assim com a imagem Big Bang: um dia caminhava com o filho de quatro anos pela região próxima a sua casa quando viu um carro queimado de capô aberto.
Na noite seguinte, voltou para fazer uma imagem que lhe ocorreu quando estava com o filho: um homem de luz sentado em cima do teto do carro queimado. “É uma das minhas fotos favoritas, deu certo na primeira tentativa”, conta animado. Para esta, o tempo de exposição foi de dez minutos. “Tento contar um pouco de mim pelas minhas imagens, como estou me sentindo e como vejo o mundo. O que me inspira é tentar fazer as pessoas sentirem algo quando veem as minhas fotos. Se o observador não sente nada, então não consegui fazer com que a imagem atingisse seu objetivo”, afirma Janne.
O fotógrafo finlandês planeja é ir a lugares abandonados e fazer trabalhos de light painting em grande escala. “Sinto que lugares abandonados têm uma beleza etérea – seria realmente inspirador explorá-los com light painting”, afirma. O mais importante, no entanto, é que Janne Parviainen está satisfeito com a descoberta que fez nove anos atrás. “Estou feliz por ter encontrado a fotografia de light painting como forma de arte. Já me levou a viver experiências incríveis e a ir a lugares que tornaram a minha vida uma aventura, como sempre quis que fosse”, conta.
Fotos: Janne Parviainen