04-2019
O caçador de beija-flores
Por Juliana Melguiso
A vontade de fotografar a natureza sempre esteve presente na vida do advogado carioca Luiz Carlos Ribenboim, de 64 anos. Ele venceu uma série de barreiras, foi aprendiz do mestre Luiz Claudio Marigo e chegou lá, tornando-se um especialista em fotografar beija-flores. Essa expertise, conquistada na base de muita dedicação, deu origem a um belo livro de 200 páginas, Beija-Flores do Brasil, publicado no final de 2017 pela Aves & Fotos Editora.
Mesmo tendo sofrido com a poliomielite na infância – doença que causa diferentes tipos de paralisia em crianças e adultos – e ter limitações relacionadas a ela, como a dificuldade de carregar alguns tipos de equipamentos fotográficos, Ribenboim jamais deixou seu sonho de lado. “Um fotógrafo que me ajudou muito a continuar foi o Marigo, que infelizmente morreu em 2014. Quando o conheci, sabia muito pouco sobre fotografia e ele, além de grande amigo, gostava muito de ensinar”, conta o fotógrafo.
Foi a partir de agosto de 2006, aos 52 anos, que Ribenboim começou a se aventurar em matas e cerrados brasileiros para flagrar imagens de aves, em particular os ligeiros beija-flores, em seu hábitat. “Sempre gostei desse tipo de fotografia e não lembrava muito de brasileiros que registrassem esse tipo de ave. Então, resolvi arriscar”, conta o fotógrafo.
Porém fotografar essas pequenas criaturas não é nada fácil e requer muita dedicação e paciência. O primeiro passo, segundo Ribenboim, é realizar uma ampla pesquisa sobre a ave e também sobre os locais onde encontrá-la. Um fator que aumenta a presença de beija-flores em determinadas regiões, por exemplo, são as florações, período em que as flores de alguns tipos de planta desabrocham, atraindo cada vez mais esses velozes pássaros.
“Durante a época de floração, existe um aumento de beija-flores nessas regiões, e assim também crescem as chances de flagrar belos momentos. Sempre procuro fotografá-los nessas épocas. Já fiz isso algumas vezes em diversos lugares, como na Chapada Diamantina, na Bahia, para fotografar o beija-flor-de-gravata-vermelha e beija-flor-marrom. Fui até a Serra do Cipó, em Minas Gerais, para fotografar o beija-flor-de-gravata-verde e outros lugares”, conta o fotógrafo, que passa em média de 7 a 10 dias em cada local para fazer as imagens.
Alta velocidade
O especialista informa que um beija-flor pode abrir e fechar as asas e cauda num movimento que pode chegar a 70 a 80 vezes por segundo, fazendo com que a atenção para o clique perfeito seja redobrada. “Esse é um dos principais pontos que dou atenção, pois quero que a imagem permaneça congelada nesses movimentos”, explica ele.
O fotógrafo trabalha com velocidade do obturador mais rápida ou igual a 1/2.000s, e ainda procura regular a câmera para que faça ao menos 10 fotos sequenciais por segundo, garantindo assim o congelamento de boa parte dos movimentos da ave e sucesso no resultado.
Para registrar cenas tão velozes, o fotógrafo trabalha com uma Nikon D5, principalmente por conseguir disparar até 12 fotos por segundo, e também por não perder muita qualidade quando aliada a um ISO mais alto. Ribenboim geralmente usa as teleobjetivas Nikkor 300 mm f/2.8 e 500 mm f/4 VR II – que pode ganhar um teleconversor de 1,4x, que eleva a tele para um ângulo de visão de 700 mm e causa a perda de 1 ponto de luz. “Recorro ao teleconversor caso a ave esteja muito distante, mas evito, pois o foco não fica tão rápido nem tão preciso, além de haver perda de luminosidade e de qualidade óptica”, explica.
Outra técnica usada por Ribenboim para fotografar beija-flores é ajustar a câmera no modo de prioridade de abertura, principalmente para compensar a exposição para mais ou para menos, conforme for a situação. “Se necessário, posso elevar o ISO até 4.000 ou um pouco mais para conseguir a velocidade do obturador que preciso para captar a imagem perfeita”, explica.
Quanto ao tempo necessário para conseguir uma bela imagem, ele diz que pode variar muito. Segundo o especialista, para conseguir a foto do beija-flor-de-gravata-vermelha ele teve de viajar três vezes em anos diferentes (2014, 2016 e 2017) para a pequena cidade de Mucugê, uma das mais antigas da região da Chapada Diamantina, na Bahia, onde teve de lidar com diversas situações para encontrar a ave. “Na primeira vez, quase não havia flores. Na segunda, tive de aprender a lidar com a peculiaridade da espécie, por ser muito rápida e só apresentar a face e a gravata brilhando quando está olhando de frente. Já tinha perdido a esperança”, conta.
Foi somente na terceira vez, com a ajuda do destino, de um guia e do fotógrafo Thalison Ribeiro, que ele conseguiu fotografar a tão sonhada espécie. Os dois fotógrafos resolveram criar folders contendo informações sobre essa espécie de beija-flor para distribuir entre população da cidade, de cerca de 5 mil habitantes. A ideia era conscientizar os habitantes sobre a importância de preservar a natureza e os beija-flores. “Foi como se eles tivessem nos ouvindo. Fomos para a mata com o guia para o local onde poderiam estar e eles apareceram, prontos para posar para dois fotógrafos desesperados”, brinca Ribenboim.
Atualmente, orgulhoso pelo lançamento de Beija-Flores do Brasil (que conta com a participação de outros fotógrafos de natureza), Ribenboim acredita que esse tipo de fotografia vai além de motivar novos fotógrafos a se interessarem pela área, pois ajuda a criar uma consciência maior sobre questões ambientais. “A fotografia de natureza faz com que você se sintonize a ela. Quero que essas imagens mostrem para as pessoas todas as coisas incríveis que o Brasil tem, e como é necessária a preservação do meio ambiente, seja por meio de leis ou com a ajuda do trabalho que é feito por centenas de fotógrafos do segmento”, avalia o fotógrafo. Os beija-flores agradecem.