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09-2016

A pintora de imagens

A fotógrafa e professora de fotografia Danny Bitencourt estava com dificuldades para dormir. Em vez de tomar remédios, preferiu comprar um livro sobre mitologia. Começou a lê-lo esperando que o sono viesse. O que surgiu em sua mente, entretanto, foram inspirações para o ensaio Mitos, ao qual se dedicou nos últimos dois anos e que expôs entre 13 de janeiro a 13 de fevereiro de 2015 no Espaço 512 em Porto Alegre (RS).

Apaixonada por imagens subaquáticas, Danny foi cursar Biologia. Mas, em seis meses, percebeu que a apreciação por fotos feitas dentro d’água nada tinha a ver com o estudo da vida. Resolveu, então, abandonar a faculdade, sair de Porto Alegre, sua terra natal, e viajar por três meses pela Califórnia, EUA. Em Santa Mônica, a oeste de Los Angeles, descobriu o que queria fazer da vida. “Tudo ali gira em torno do teatro e do cinema. Áreas que sempre gostei. Foi então que descobri a fotografia”, lembra.

De volta ao Brasil, passou a cursar Fotografia na Ulbra, na capital gaúcha. Ainda como estudante, direcionou a carreira para trabalhos como cobertura de eventos, fotojornalismo e, principalmente, imagens de teatro e dança. “Aos poucos, percebi que não era aquilo que queria. Comecei a sentir a necessidade de fazer um trabalho mais autoral”, conta.

À procura de mitos

Foi buscar na internet o que fotógrafos de outros países estavam fazendo e descobriu nomes que mais a atraíam, como a americana Brooke Shaden, a polonesa Laura Makabresku e a russa Katerina Plotnikova, que se dedicam à fotografia de fine art. “Elas se inspiram em temas oníricos e contos de fadas e produzem imagens com o intuito de promover sensações. Estudei essas fotografias e percebi que era isso que buscava”, afirma Danny.

Assim que descobriu, dentro da mitologia, um tema para trabalhar, a gaúcha contratou uma produtora para ajudá-la na criação das imagens. A fotógrafa escolheu doze personagens mitológicos e escreveu roteiros reinterpretando, a seu modo, cada ser e pensando nos atores que chamaria para fotografar. “Não queria trabalhar com modelos porque eles são muito preocupados com a própria imagem. Precisava de alguém que vivesse aquelas personagens”, conta. E, como conhecia muitos artistas do tempo que cobriu teatro e dança, já sabia qual roteiro combinava com que pessoa.

Os detalhes de produção

Com exceção das fotos Minerva e Dionísio, feitas em estúdio, as demais foram produzidas em locações – mas em todas foi usada apenas luz natural. A fotógrafa trabalhou apenas com a lente 24-85 mm, que revesou em duas câmeras digitais Nikon, e uma analógica Nikon FM10. Embora Danny tenha trabalhado bastante na pós-produção, não há nada nas imagens que tenha sido aplicado durante o tratamento. Flechas, sangue, coroas de flores, animais… todos os detalhes faziam parte da produção no momento do clique. “Não faço montagem. Faço pintura de imagens. Eu mesma crio os filtros que aplico usando fotos antigas. Trabalho com muitas camadas até conseguir o efeito desejado”, explica. Ela, que antes tinha horror a trabalhar com Photoshop, hoje vê o programa como um aliado da produção. “É uma maravilhosa ferramenta para a continuidade da criação”, diz.

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