O italiano Oliviero Toscani, o mais polêmico fotógrafo de publicidade e moda de todos os tempos, morreu aos 82 anos na segunda-feira, 13 de janeiro, vítima de amiloidose, doença incurável na qual depósitos anormais de proteína se desenvolvem no corpo – incluindo no cérebro, coração, rins e outros órgãos vitais. Ele relevou ter a doença em agosto de 2024 e desde então havia perdido 40 quilos. Toscani ficou mundialmente conhecido por suas campanhas publicitárias provocativas para a grife italiana de roupas Benetton.

O beijo proibido que chocou a igreja em campanha da Benetton: criar polêmica era o objetivo de Toscani

Natural de Milão, Toscani passou duas décadas como diretor de arte Benetton. Ele estava internado em um hospital na Toscana e, já no final da semana passada, seu estado era grave. Em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera em agosto de 2024, o fotógrafo foi contundente, como era seu estilo: “Não sei quanto tempo me resta de vida, mas não estou interessado em viver assim de qualquer maneira.”

O racismo foi um dos pontos discutidos por Toscani em campanhas da Benetton pelo mundo afora

Ao longo de sua longa e prolífica carreira, Oliviero Toscani dirigiu diversas  campanhas da Benetton, incluindo algumas especialmente controversas nas décadas de 1980 e 1990. Um trabalho especialmente chocante mostrou uma freira e um padre se beijando, roupas encharcadas de sangue de soldados mortos, prisioneiros no corredor da morte e, talvez o mais famoso, o americano David Kirby morrendo de Aids. Muita gente acredita que a foto é de Toscani, mas não.

A devastadora imagem de David Kyrby com Aids, feita por Therese Frare em 1990 e usada por Toscani em 1992

Ela foi publicada em novembro de 1990 na extinta revista Life e foi feita Therese Frare, estudante que fazia pós-graduação de jornalismo. Nela, Kirby, de 32 anos, está cercado pela família em seu leito de morte. Pela primeira vez o público via as devastadoras sequelas da Aids e, por isso, tornou-se a imagem símbolo da epidemia que, naquela data, havia infectado 12 milhões de pessoas. O que Toscani fez, como diretor de arte da grife, foi usar essa foto icônica numa polêmica campanha internacional da Benetton, em 1992.

A imagem da modelo francesa Isabelle Caro com anorexia foi para outdoors da Semana da Moda de Milão em 2007

Ele também ficou célebre por uma campanha que visava expor distúrbios alimentares mortais na indústria da moda. Em 2007, uma imagem da modelo francesa Isabelle Caro foi publicada em outdoors durante a semana de moda de Milão daquele ano – ela morreu dois anos depois, aos 28 anos, de anorexia nervosa. A imagem de Isabelle Caro, fotografada por Toscani, foi uma das muitas censuradas ao longo de sua carreira, uma prova do comprometimento do fotógrafo em lançar luz sobre questões sociais por meio de obras chocantes. “Exploro roupas para levantar questões sociais”, disse Toscani à agência Reuters numa entrevista em 2000, após sua polêmica imagem no corredor da morte. “Para explicar certas coisas, palavras simplesmente não bastam. Você nos ensinou isso”, disse um porta-voz da Benetton sobre a morte de Toscani.

A integração racial foi um tema muito usado por Oliviero Toscani em campanha da Benetton

No ano passado, Toscani esperava ser lembrado “não por uma foto específica, mas por todo o meu trabalho, pelo comprometimento”. Ele passou o auge de sua carreira forçando os limites na publicidade, usando imagens visceralmente chocantes para chamar a atenção para temas sociais (e para vender roupas da Benetton), da Aids ao racismo, da pena de morte ao assassinatos a mando da máfia. Mas o controverso uso da foto de David Kirby, por exemplo, provocou uma reação negativa de ativistas e um boicote à Benetton, mas Toscani defendeu seu trabalho. Em uma entrevista de 2016 para um blog de fotografia, ele afirmou que uma empresa tinha a responsabilidade de “mostrar sua inteligência social e sensibilidade à sociedade ao seu redor”.

O fotógrafo morreu aos 82 anos em um hospital da Toscana, Itália, de amiloidose, uma doença incurável