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05-2025

“Kalunga” pelos olhos de Gustavo Mina e Orestes Locatel

Retrato de um pequeno boiadeiro quilombola pelo olhar de Gustavo Minas

A maior comunidade quilombola do Brasil é o tema da exposição “Kalunga”, com fotografias do mineiro Gustavo Minas e do carioca Orestes Locatel, que tem abertura programada para o dia 22 de maio de 2025 na Mosaico Fotogaleria, em Vitória (RS), com curadoria dos fotógrafos capixabas Gabriel Lordello e Tadeu Bianconi. A ideia da mostra é propor o diálogo entre o trabalho de fotógrafos de diferentes gerações e com linguagens também diferentes, mas que voltaram o olhar para a comunidade dos Kalungas, no interior de Goiás. Gratuita, fica aberta ao público em geral até 12 de julho e conta com 29 imagens, sendo as coloridas de autoria de Minas e as em P&B, de Locatel.

Flagrante de meninos quilombolas em ação do curral da comunidade pelo olhar de Orestes Locatel

Com 262 mil hectares, o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é a maior área quilombola do Brasil. Em 2021, foi reconhecido pela ONU como o primeiro território no Brasil conservado pela comunidade, com 83% de área com vegetação intocada. A região abrange três municípios e abriga 56 comunidades, com mais de 8 mil habitantes. A população se fixou ali a partir do século 18, fugida da escravidão nas minas de ouro na região. Desde então, a economia do quilombo se baseia principalmente em agricultura de subsistência, com o cultivo de roças familiares, além do ecoturismo, extrativismo e pecuária. Devido às dificuldades de acesso à região, a população conseguiu se isolar por muito tempo, ficando até 1982 com raros contatos externos. Com isso, as tradições culturais foram mantidas, como as festas dos moradores do território, que remetem ao Brasil império.

Gustavo Minas registrou momento de uma festa religiosa no território Kalunga, que fica no interior de Goiás

Fotojornalista por formação, tendo integrado a equipe da extinta revista Manchete, e com passagem pela fotografia de publicidade, Locatel iniciou sua documentação no ano 2000 e já expôs seu trabalho na Bienal de Fotografia de Liege, na Bélgica, e na exposição “Black Is Beautiful”, realizada durante a Bienal de Fotografia de Amsterdã, Holanda, n auqal representou o Brasil ao lado do consagrado fotógrafo Walter Firmo. Também realizou outras três mostras individuais em galerias de arte de Bruxelas, na Bélgica, em Sofia e no Museu de Varna, na Bulgária. Atualmente, dedica-se a projetos pessoais e atua como fotógrafo freelancer.

Imagem noturna, capturada por Orestes Locatel com filme P&B, de uma festa na em comunidade quilombola

Jornalista de profissão e fotógrafo por devoção, Gustavo Minas tem um trabalho região recente na comunidade Kalunga. Por meio do amigo Weverson Paulino, que vive na região quilombola, realizou duas viagens, uma em 2023 e outra em 2024, durante a Romaria de Nossa Senhora da Abadia, mais conhecida como a Festa do Império Kalunga. Essa pegada documental é algo novo para Minas, hoje mundialmente conhecido pelo trabalho de fotografia de rua. Nascido na pequena Cássia (MG), ele vive atualmente em Brasília e estudou fotografia com nestre como Carlos Moreira, Gueorgui Pinkhassov e Nikos Economopoulos. Em 2017, sua série “Rodoviária” venceu o Pictures of the Year Latin America na categoria O Futuro das Cidades. Em 2023, seu projeto “Cidades Líquidas” foi um dos finalistas do renomado concurso Leica Oskar Barnack Award.

Quilombola com a coroa de rei da Romaria de Nossa Senhora da Abadia, a principal festa religiosa no território Kalunga

Gabriel Lordello explica que ele e Tadeu Bianconi já conheciam as fotografias do Orestes Locatel e sabiam que ele nunca havia apresentado esse trabalho no Brasil. “Com a vinda do Gustavo Minas a Vitória para dar um workshop, e cientes do trabalho recente dele na mesma região, propusemos uma exposição que reunisse essas duas visões bem distintas de uma comunidade tão distante para a maioria das pessoas”, comenta Lordello.

A versão em P&B de Orestes Locatel, mais antiga, do coroado para a Romaria de Nossa Senhora da Abadia

Bianconi diz que ao analisar os dois trabalhos, é interessante ver como cada um desenvolve uma narrativa própria. “Locatel, com um estilo mais clássico e documental, produziu as fotos em P&B usando a fotografia analógica como suporte. Já Gustavo, apresenta uma proposta mais contemporânea e ousada, com a cor e o espontâneo alicerçando as composições. Pensamos nesse diálogo para destacar o trabalho autoral na fotografia e, não menos importante, darmos destaque para essa comunidade quilombola histórica e que precisa ser reconhecida, valorizada e preservada”, afirma.

A visão de Gustavo Minas do espaço decorado para festejos religiosos em comunidade quilombola

Todas as fotografias estarão disponíveis para aquisição na Mosaico Fotogaleria, desde pequenos formatos até grandes ampliações com qualidade fine art, acompanhadas de certificados de autenticidade. Para conhecer a mostra é preciso agendar uma visita previamente por meio do WhatsApp 027 99943 0831 ou pelo e-mail fotogaleria@mosaicoimagem.com.br. 

Com um sino em primeiro plano, o olhar de Orestes Locatel para o cotidiano de trabalho de quilombolas no território Kalunga

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