Uma das imagens do trabalho da fotógrafa Adriana Loureiro Fernandez mostra um menino pulando uma estrutura petrolífera abandonada no Lago Maracaibo, em Cabimas, na Venezuela

O Fundo W. Eugene Smith anunciou os beneficiários de suas bolsas de 2024, incluindo a bolsa W. Eugene Smith, a bolsa Smith Student e a bolsa Howard Chapnick. Combinadas, o Fundo está emitindo US$ 72.500 em bolsas em 2024 — o maior valor em qualquer ciclo de bolsas em 45 anos. A fotógrafa Adriana Loureiro Fernández, da Venezuela, foi a ganhadora do W. Eugene Smith Grant de US$ 30 mil em Fotografia Humanística por seu projeto, Paradise Lost, que ela diz ser um tributo à busca de sua geração por mudanças na Venezuela.

Sob um céu iluminado em Punta de Mata, Venezuela, onde labaredas de gás queimam continuamente, uma família se diverte com um jogo de tabuleiro em imagem captada por Adriana Loureiro Fernandez

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O Fundo explica que Paradise Lost encapsula várias histórias acontecendo ao mesmo tempo, totalizando “uma situação insustentável emoldurada por tragédia e esplendor”. Para Adriana, o legado de Eugene Smith carrega muito do que ela preza em prática fotográfica. “Estou honrada em trazer consciência para histórias da Venezuela, em um momento em que os valores democráticos são desafiados ao redor do mundo”, diz.

Adriana Loureiro Fernandez registra policiais em uma abordagem no bairro de José Feliz Ribas, em Petare, Venezuela, área controlada por um grupo armado conhecido como Wuilexis

A fotógrafa americana Deanne Fitzmaurice recebeu uma bolsa de finalistas de US$ 10 mil pela série The Unlikely Journey, a história do refugiado iraquiano Saleh Khalaf, que foi gravemente ferido por uma bomba na estrada em 2003, quando a invasão do Iraque liderada pelos EUA começou. O menino, então com 9 anos, voltava da escola para casa quando pegou algo lhe pareceu uma bola. Segundos depois, ela explodiu, rasgando seu abdômen, arrancando suas mãos, estourando seu olho esquerdo e ferindo mortalmente seu irmão mais velho. Dias depois, o pai de Saleh, Raheem, convenceu os médicos de uma base da Força Aérea dos EUA a realizar uma cirurgia de emergência para manter seu filho vivo. Isso marcou o início de uma missão internacional de misericórdia para salvar o garoto cujo espírito indomável lhe rendeu o apelido de Coração de Leão.

Uma das imagens do menino Saleh Khalaf feita no trabalho documental de logo prazo feito por Deanne Fitzmaurice, selecionado pelo Fundo W. Eugene Smith

O projeto está em desenvolvimento ativo há mais de 20 anos, pois Fitzmaurice tem documentado a vida de Khalaf e a vida de sua família nos Estados Unidos após receber asilo. “Esse reconhecimento é excepcionalmente significativo, pois minha fotografia há muito tempo é inspirada pelo poderoso trabalho de W. Eugene Smith e sua profunda compaixão pela humanidade”, diz Fitzmaurice.

No hospital, Saleh Khalaf teve uma caneta hidrográfica colada no braço amputado para que pudesse fazer desenhos, conforme registrou Deanne Fitzmaurice

Um segundo finalista, Murat Yazar, da Turquia, também recebeu uma bolsa de US$ 10 mil pelo trabalho Shadows of Kurdistan, que explora as dimensões e a profundidade da cultura curda e sua situação política, já que o Curdistão é dividido entre os países Turquia, Iraque, Irã e Síria.  “Nos primeiros anos da minha jornada fotográfica, um dos fotógrafos que mais me impactou foi W. Eugene Smith”, diz Yazar. “Receber o prêmio reforça minha crença de que estou no caminho certo na minha fotografia desde o começo. Isso me motivará a continuar meu projeto Shadows of Kurdistan com ainda mais dedicação”, comenta.

Hoje já adulto e morandos nos EUA, Saleh ama o jogar de basquete e faz o melhor que pode para arremessar e driblar sem sua prótese, que acha desconfortável – foto de Deanne Fitzmaurice

Além das duas principais bolsas, o Fundo também coordena uma Bolsa Estudantil (com um total de US$ 15 mil) e a Bolsa Howard Chapnick (US$ 7.500). Lea Greub, da Alemanha, Mosfiqur Rahman Johan, de Bangladesh, e Gerd Waliszewski , dos Estados Unidos, mas atualmente baseado na Alemanha, receberam US$ 5 mil cada como vencedores da Bolsa Estudantil. Maleza , uma associação sem fins lucrativos liderada por fotógrafos que busca facilitar a fusão e a troca de experiências em torno da fotografia no Peru, foi a ganhadora da Bolsa Howard Chapnick de 2024.

De uma ponte antiga, adolescentes saltam 16 metros no Rio Khabur abaixo. Cidade de Zakho, Iraque – foto de Murat Yazar

O programa recebeu 725 inscrições de cerca de 85 países, maior número em qualquer ano desde que o Fundo foi estabelecido em 1979. Além disso, a qualidade das inscrições foi considerada fenomenal, tanto que os jurados da bolsa Smith Student não conseguiram selecionar por unanimidade dois beneficiários, como foram instruídos a fazer. Em vez disso, eles selecionaram três, com cada um recebendo uma bolsa de US$ 5 mil.

Corvos voam próximos ao Monte Ararat, na cidade de Igdir, na Turquia, em imagem captada por Murat Yazar

“Foi difícil julgar as inscrições porque elas eram de altíssima qualidade e importância”, diz Hideko Kataoka, diretora de fotografia da Newsweek no Japão e participantes da comissão julgadora do Smith Grant de 2024. O painel de jurados também incluiu Arem Duplessis, diretor criativo do grupo na Apple, e Nii Obodai, fundador do Nuku Studio, que oferece suporte a fotógrafos emergentes e estabelecidos por meio de projetos de pesquisa, colaborações, parcerias e outras iniciativas. “Após 45 anos, é emocionante e gratificante ver que as bolsas W. Eugene Smith continuam a atrair fotógrafos documentaristas de todos os níveis, de todo o mundo”, diz Scott Thode, presidente do Fundo. Os selecionados e suas imagens podem ser vistos no site do W. Eugene Smith Grant.

Durante o Festival da Primavera de Newroz, em Akre, no Iraque, homens carregam tochas montanha acima para celebrar o Ano Novo Curdo – foto de Murat Yazar