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05-2025

Fotógrafo consegue mostrar o interior de um acelerador de partículas

Se você já se perguntou o que acontece com um elétron enquanto ele voa no interior de um acelerador de partículas saiba que um fotógrafo pode responder. O neo-zelandês Charles Brooks, especialista em fotografar o interior de instrumentos musicais raros (veja mais em www.charlesbrooks.info), recebeu um convite do físico Eugene Tan, que comanda os trabalhos na Organização de Ciência e Tecnologia Nuclear da Austrália (ANSTO), para registrar um novo componente a ser instalado no Síncotron australiano, tipo de acelerador de partículas do tamanho aproximado de um campo de futebol – nele, elétrons quase atingem a velocidade da luz.

A imagem captada no interior do acelerador de partículas pelo especialista Charles Brooks

O ondulador criogênico que Brooks fotografou só ficou acessível por alguns dias e Tan resolveu aproveitar a habilidade do especialista quando a janela de oportunidade estava aberta. “Sempre fui atraído por registrar espaços ocultos ou complexos, e esse era um dos objetos mais intrincados que eu poderia fotografar”, diz Brooks. Uma vez selado, o ondulador criogênico é resfriado a menos 123 graus Celsius e colocado sob um vácuo poderoso, no qual permanecerá por décadas. “O ondulador opera de uma forma que reflete os instrumentos que costumo fotografar”, comentou. Em um violino, diz Brooks, a pressão do arco gera uma vibração na corda, o que faz o corpo ressoar e criar sobretons, que são percebidos como um som atraente. No ondulador, algo semelhante acontece, mas próximo da velocidade da luz em vez do som. Tan explica que ímãs poderosos fazem os elétrons vibrarem conforme eles aceleram pelo túnel, criando sobretons, não como ondas sonoras, mas como raios X incrivelmente intensos, semelhantes a laser. Esses raios X são então usados ​​para pesquisas em vários campos científicos.

O fotógrafo usou uma mirrorless Panasonic Lumix G9 II com uma lente endoscópica adaptada

Para as fotos, Brooks contou com uma Panasonic Lumix G9 II que tem um sensor Micro Four-Thirds. “Foi uma escolha foi deliberada. A distância de flange me permite adaptar mais lentes do que eu poderia com uma câmera full frame”, comentou. O fotógrafo usou lentes endoscópicas Storz de fabricação alemã, que são projetadas para capturar vídeo em sensores muito menores. Brooks teve que experimentar com “dezenas de combinações de adaptador e lupa” para garantir que o círculo da imagem cobrisse o sensor.

Além de fotógrafo, o neo-zelandês Charles Brooks é músico e chegou a fazer parte da Orquestra Sinfônica da São Paulo como violoncelista

Alguns desafios tiveram que ser superados: superímãs dentro da máquina poderiam potencialmente sugar a lente da câmera e uma equipe de engenheiros teve que testar o magnetismo do equipamento antes de Brooks começar a fotografar. “Tiveram que desmontar parcialmente o ondulador criogênico para estabilizar a temperatura e a pressão, e testar minhas lentes para o magnetismo”, contou o fotógrafo. A colocação das lentes e da luz teve que ser cuidadosamente planejada com antecedência, já que não era uma situação em que Brooks poderia simplesmente descobrir na hora.

O interior de um raro violoncelo criado pelo luthier inglês Lockey Hill em 1780 em foto de Charles Brooks

Depois, no processo de edição, Brooks usou a técnica de empilhamento de foco para deixar as imagens nítidas por causa da profundidade de campo limitada que as microlentes normalmente têm ao fotografar objetos muito próximos da câmera. Segundo dele, a superfície altamente reflexiva dentro do ondulador funcionaram a seu favor, pois forneceram mais luz do que ele normalmente consegue ao fotografar o interior de instrumentos musicais. Por isso, não precisou aumentar o ISO tanto quanto de costume, um grande alívio, considerando que suas lentes endoscópicas adaptadas funcionam em abertura f/220 aproximadamente.

Imagem da série “Architecture in Music”, de Brooks, mostra o interior de um piano de cauda da marca Fazioli

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