04-2017
Confira as fotos ganhadoras do HIPA 2017
Em um aterro sanitário de Guwahati, cidade do leste da Índia, uma jovem garota é flagrada caminhando em meio ao lixo em busca de materiais recicláveis. O vestido com barra rodada e o espeto que leva em mãos poderiam fazer dela uma personagem de um conto de fadas, exceto pelo estado de extrema pobreza, vivendo em uma comunidade sem eletricidade ou encanamento. A distância entre o sonho e a realidade fez com que o fotógrafo iraniano Arash Yaghmaeian vencesse o grande prêmio do Hamdan Bin Mohammed Bin Rashid Al Maktoum International Photography Awards (HIPA) – o título de Fotógrafo do Ano e US$ 120 mil.
Na sua sexta edição, o concurso vem se consolidando como um dos mais relevantes do calendário de premiações da fotografia mundial, inclusive por ocupar o posto de mais valioso: a somatória dos prêmios atinge US$ 423 mil. O concurso foi dividido em cinco categorias: O Desafio, como o tema do ano, em que os fotógrafos deviam enviar imagens que lidam com as dificuldades da carreira de um fotógrafo ou das próprias personagens; Manipulação, para as melhores edições digitais; Portfólio, para séries de cinco a 10 imagens que narrem uma história; e Geral Preto & Branco e Colorida.
O Desafio
O italiano Giulio Montini conquistou o primeiro lugar da categoria com o registro do nadador com amputações em ambos os braços durante o Campeonato Paralímpico de Natação da Itália. Nessa ocasião, o mesmo competidor ganhou a categoria 200 m medley.
Já a imagem do palestino Adel El Masri, que ficou em segundo foi intitulada “Conhecimento é a maior arma”, e mostra um garoto que seguia para a escola de um campo de refugiados do Líbano encarando um homem armado que faz a segurança do lugar.
O mundo animal também tem os seus desafios. O clique de Mohammad Khorshid, do Kuwait, conquistou o terceiro lugar e mostra duas águias rabialva disputando a comida em um campo da Hungria.
Em um campo de refugiados na fronteira entre a Síria e Jordânia, o fotógrafo Mohammed Yousef registrou a garotinha cuidando da irmã, e a imagem ficou em quarto. Os adultos da região ficam longas horas fora do campo trabalhando ou procurando por uma oportunidade, tendo de deixar os filhos sozinhos nas casas improvisadas.
Mesmo com a delicadeza de tratar o câncer logo na infância, as crianças fotografadas se divertem em foto do russo Anton Unitsyn, que acabou ficando na quinta posição da categoria.
Portfólio
O italiano Giovanni Cedronella visitou uma casa abandonada e somente na decadência dos cômodos antigos e nos detalhes dos livros, cadeiras e até o piano dos moradores antigos, compôs a série ganhadora da categoria Portfólio.
O segundo lugar foi para o francês Gilles Nicolet, que enviou um apanhado de imagens de comunidades costeiras pelo mundo. O problema com essas pessoas é que sua principal forma de subsistência, a pesca, está perdendo espaço no comércio para grandes criadores de peixe em cativeiro.
As imagens subaquáticas do polonês Rafal Makiela, com tom de editorial de moda ou de retratos contemporâneos ficou em terceiro. As fotos foram produzidas em uma piscina, o que dá a sensação das modelos flutuarem no espaço.
Burkina Faso é um dos países mais pobres do mundo, mas é o quarto maior produtor de metais e minérios preciosos. A série documental do esloveno Matjaz Krivic, que ficou em quarto na categoria Portfólio, explora a rotina perigosa dos mineradores, sujeitos a acidentes nas minas e a contaminação por mercúrio e outros químicos usados para localizar as pepitas.
O quinto lugar foi dado ao chinês Qiu Yan pela série desenvolvida ao longo de seis anos. Logo depois do terremoto que atingiu a região de Sichuan, sul da China, em 2008, o fotógrafo correu para a zona afetada e fotografou o lugar e algumas das pessoas que ali moravam. Um ano depois, voltou para visitar e registrar as pessoas que tinha conhecido na primeira ocasião, e cinco anos mais tarde, as fotografou novamente.
Manipulação
O iraniano Shahrzad Akrami decidiu representar a mãe natureza com elementos diversos da fauna e flora, criando um ser com formato semelhante a uma avestruz, mas com o corpo formado por ramos de árvore, representando a “fertilidade, continuidade e unidade” da natureza. A imagem ficou com o primeiro lugar de Manipulação Digital.
Já para o russo Dmitrii Rogozhkin, segundo colocado da categoria, a unidade entre os humanos se dá no mistério do tempo e do fim da vida, representando o tempo como um rio, que lentamente nos engole, representando várias etapas da vida da garotinha, até a sua terceira idade quando encontra o último minuto de sua existência.
O vício nos smartphones é um problema que se torna cada vez mais comum como um objeto de distração de usuários pelo mundo – desde a falta de interação na vida real, até possíveis fatalidades de pedestres e motoristas desatentos. Na foto que ficou em terceiro lugar, de Salem Saeed Ba Wazir, do Iêmen, o problema é tratado como um “assassino sem face”, agravado pelas dezenas de acidentes e mortes registradas anualmente pelo uso do celular no trânsito.
Lubna Abdelaziz, do Egito, ficou em quarto e representou a memória humana como um vaso de flores, substituindo a cabeça por um buquê – fica a critério de cada um, segundo a fotógrafa, “escolher as flores/memórias felizes e deixar as lembranças ruins para trás”.
Em quinto lugar, ficou a turca Leyla Emektar. Na imagem selecionada, ela ressalta a depressão e a ansiedade, que podem surgir logo na juventude, ao lado do suporte necessário para recuperar a pessoa da doença, mesmo nos casos mais severos.
Geral – Preto & Branco
Durante um ritual na Bengala Ocidental, na Índia, uma mulher se joga à frente da multidão para receber o Prasad. Na religião hindu, a palavra significa “presente gracioso”, e são as comidas oferecidas para as divindades e levadas de volta aos fiéis como sinal de agradecimento do deus. A foto foi feita pelo indiano Apurba Mallick, que ficou em primeiro lugar da categoria Geral – Preto & Branco.
A foto do alemão Tobias Binder, que foi a segunda colocada, mostra um garoto prestes a embarcar de volta para casa depois de um período de tratamento na Alemanha. A ONG Peace Village International foi criada em 1967 e oferece assistência a crianças acidentadas durante guerras em seus países natais.
Os contrastes da pele flácida da senhora idosa, abandonada pela família aos 85 anos, criam a atmosfera dramática da foto. O registro foi feito por Khalil Al Mansoori, dos Emirados Árabes Unidos, e completa o pódio da categoria.
Geral – Colorido
O clique da formiga, enviado pelo italiano Giuseppe Bonali, é curioso por dois motivos: justamente na hora em que se equilibra para passar de uma folha a outra, uma gota de orvalho está prestes a cair. O destaque das cores das flores ao fundo dá o toque especial à foto, e foi o primeiro lugar da categoria Geral – Colorido.
A imagem de Peter Sabol, da Croácia, teve efeito semelhante a anterior: a libélula adormecida e a janela estavam coberta pelo orvalho. As gotículas refletidas na luz criaram um efeito interessante na imagem, que deu ao fotógrafo a segunda colocação da categoria.
Por fim, a geometria semelhante a um jogo de Tetris e o colorido dos contêineres fizeram a foto do alemão Daniel Jonas Reiter, que ficou em terceiro, mais divertida.