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05-2019

Superprodução para dançar na chuva

Uma das dançarinas do Programa do Faustão que dançou debaixo de uma cortina de água no estúdio de Pina

Uma das dançarinas do Programa do Faustão que dançou debaixo de uma cortina de água no estúdio de Pina

Mangueiras, baldes, chafariz e tudo o mais que possa criar movimento com água em uma foto faz o fotógrafo Flávio Pina, de 48 anos, virar criança de novo em seu estúdio, situado na zona leste da capital paulista. Ele é autor do projeto intitulado Photographing with water, que consiste em jogar água em seus modelos, criando um resultado fotográfico muito criativo, peculiar e, acima de tudo, muito molhado.

A ideia de trabalhar com água nasceu em 2016, quando Pina atendeu ao pedido de uma modelo que queria fotos de alguém jogando farinha de trigo contra o corpo dela. Na época, o ensaio foi feito em um salão vazio, emprestado por um amigo. Quase um ano depois do ensaio com farinha, o fotógrafo resolveu colocar a ideia com a água em prática. Mas seria preciso montar uma superestrutura para a ousada empreitada.

Pina, que paralelamente à fotografia dirige uma empresa metalúrgica, convocou alguns funcionários para integrar a equipe que montaria a infraestrutura necessária para revestir o estúdio com lona e assegurar que a água não prejudicasse nenhum equipamento.

O primeiro passo foi comprar uma lona preta de 6 x 8 metros, que custou cerca de R$ 800, para ser usada como base do set. Depois vieram os gastos com madeira (aproximadamente R$ 1 mil), duas bombas de água (R$ 200, pois uma queimou durante o teste), um rolo de plástico preto (R$ 80), dois rolos de tecido TNT preto (R$ 200), mangueiras e esguichos, que somaram mais R$ 400 aos custos – além da mão de obra.

A estrutura foi revestida com plástico, depois a lona foi esticada no chão e o tecido de TNT foi colocado sobre o plástico nas paredes

A estrutura foi revestida com plástico, depois a lona foi esticada no chão e o tecido de TNT foi colocado sobre o plástico nas paredes

O projeto Photographing with water, que levou cerca de um ano para sair do papel e três meses para ser concluído, precisou apenas de três dias para ser estruturado. Depois de montar a base de madeira que envolvia as paredes do estúdio, foi necessário fixar nela o plástico preto para fazer a vedação do ambiente. Em seguida, para corrigir o brilho do plástico, Pina forrou tudo com tecido TNT. Concluiu o cenário ao colocar lona preta de caminhão no chão, de maneira que formasse um fundo infinito preto em todo o set. Além da vedação com lona e plástico, Pina também montou dois tipos de cortinas d’água usando canos de PVC furados: um redondo e outro reto, que foram colocados no teto e conectados a mangueiras.

Na lona no chão, uma lâmina de água de 10 centímetros serviu para criar o efeito reflexivo nas imagens. Todos os fios e tomadas foram protegidos e preservados atrás da estrutura de madeira e plástico. As tochas de flashes e os acessórios também foram cobertos com plástico. Um técnico criou um sistema inteligente para bombear a água para dentro do estúdio, de maneira que a pressão fosse equilibrada para não jorrar água nem a mais nem a menos modelos.

Luz para se molhar

Depois de tudo montado, Pina precisou solucionar o esquema de iluminação pensando em dois dilemas: um para iluminar os modelos e outro para congelar o movimento da água. Para os retratados, dois flashes Atek Speed 600, ultrarrápidos, foram usados em cada lado do set, cruzando a luz no centro da cena.

Um flash dedicado foi colocado ao fundo para iluminar o movimento da água – ele era disparado em sincronia com os flashes de estúdio. O flash dedicado ao fundo foi camuflado com tecido TNT preto. Mas, o fotógrafo se deparou com outro problema durante os primeiros cliques: “o modelo posicionado à frente da iluminação de fundo precisava esconder o flash, pois, quando a luz detrás vazava, estragava todo o trabalho”, lembra ele.

Como a ideia era fotografar corpos e água em movimento, o truque foi usar o flash dedicado, disparado remotamente, na mão de um assistente vestido de preto que acompanhava o deslocamento dos modelos no set, não deixando a luz vazar e atingir diretamente a lente da câmera.

No terceiro dia de trabalho, o fotógrafo percebeu um novo problema: a água fria usada na mangueira e na lâmina no chão era desagradável para quem se molhava, deixando a pele dos modelos arrepiada, o que aparecia nas imagens. Foi então que Flávio Pina teve a ideia de adaptar ao sistema de irrigação um chuveiro elétrico, deixando a temperatura mais alta.

A ousada ideia contou com  40 pessoas e rendeu um total de cinco mil imagens

A ousada ideia contou com 40 pessoas e rendeu um total de cinco mil imagens

Alguns imprevistos

Outro contratempo foi com relação à gordura corporal depositada na água. “Eu tinha previsto apenas duas trocas de água durante todo o projeto, porém, com o fluxo de pessoas entrando e saindo do set para serem fotografadas, a lona no chão começou a ficar muito escorregadia, devido a cremes corporais e de cabelo, maquiagem e a própria gordura da pele dos modelos”, diz ele. Para não comprometer o desempenho no set e evitar quedas, a cada final de sessão era necessário esvaziar a lâmina d’água, higienizar o chão de lona com água sanitária e depois encher de novo com água limpa.

Para conseguir modelos para posar para o projeto, Pina foi até uma escola de dança próxima ao estúdio e fez o convite aos alunos. “Em troca, dava as fotos. Entretanto, minha única exigência era que eles viessem em grupo de pelo menos três pessoas, pois era necessário um posar, enquanto um segundo jogava água com a mangueira ou balde, e o outro ficava atrás movimentando o flash”, esclarece ele.

A cada sessão, o fotógrafo postava as imagens nas redes sociais, o que elevou o número de procura de modelos para posar. Pina percebeu que os melhores modelos eram dançarinos, pois são excelentes com expressão corporal, o que alinhou muito bem com a essência do projeto.

Os primeiros modelos vieram de uma escola de dança, depois chegaram mais dançarinos, que, com uma boa expressão corporal, deram o toque artístico às imagens

Os primeiros modelos vieram de uma escola de dança, depois chegaram mais dançarinos, que, com uma boa expressão corporal, deram o toque artístico às imagens

O sucesso foi tão grande que ele foi procurado até pelas dançarinas do Programa do Faustão, da TV Globo.
A cada ensaio, Flávio Pina agregava novas ideias de adereços. Foram usados muitos tipos de guarda–chuvas coloridos e até um balanço de madeira foi construído para ser usado, ajudando aqueles que não tinham muita habilidade para posar.

No total, ele fotografou cerca de 40 pessoas, entre elas modelos, bailarinos e dançarinos, que participaram de 15 ensaios, rendendo aproximadamente cinco mil cliques e 600 fotos finais. O fotógrafo fez o trabalho com uma DSLR Canon EOS 70D com lente 28-80 mm f/1.8. A captura das imagens foi feita quase sempre com f/11, 1/160s e ISO 100.
Depois de concluir com sucesso o Photographing with water em 2017, Flávio Pina tem um novo projeto em que associa fumaça, palco de teatro e luz contínua colorida. Por enquanto, ele está em fase de planejamento dos ensaios.
O fotógrafo quer transformar o trabalho com água em uma exposição, porém ainda não encontrou nenhuma empresa para ser patrocinadora. Para quem se interessar, basta entrar em contato diretamente com ele pelo e-mail: contato@flaviopina.com.br.

Para produção das imagens, Pina precisou ter sempre um assistente que segurasse o flash dedicado atrás do modelo

Para produção das imagens, Pina precisou ter sempre um assistente que segurasse o flash dedicado atrás do modelo

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