01-2024
Imagens geradas por IA que viralizaram e marcaram a fotografia mundial em 2023
Imagens geradas por plataformas de inteligência artificial (IA) foram, sem dúvida, o centro de muitas polêmicas relacionadas à fotografia em 2023. Muitos defendem a que IA é “o futuro da fotografia” enquanto outros, também muitos, nem consideram imagens criadas com IA como fotografia, mas sim como meras “ilustrações”, já que a fotografia, analógica ou digital, deve ser gerada pelo efeito da luz sobre um filme ou um sensor, defendem. Se não há luz no processo, uma imagem não pode ser considerada fotografia, dizem vários especialistas – o que é um argumento forte. Mas com evolução contínua das plataformas, principalmente MidJourney e DALL-E II, as mais usadas e famosas, as imagens de IA têm se tornado cada vez mais realistas, em alguns casos, quase impossíveis de serem reconhecidas como irreais, criando uma nova fronteira para o mundo da fotografia. Alguns fatos muito relevantes marcaram a polêmica que envolve IA e fotografia e foram noticiados por Fotografe. Em fevereiro de 2023, por exemplo, uma imagem de IA (veja abaixo) venceu um concurso de fotografia organizado por uma empresa australiana de eletrônicos. A própria empresa anunciou o fato e chamou de “a primeira fotografia premiada de IA do mundo”.
O renomado fotojornalista Michael Christopher Brown gerou polêmica após lançar uma série de “pós-fotografia” gerada por IA. Ele alegou que estava tentando ilustrar histórias que são impossíveis de documentar com uma câmera e recorreu à IA para seu projeto 90 Miles, tentando mostrar a realidade dos cubanos que tentam cruzar os 145 quilômetros de oceano que separam Havana da Flórida (veja abaixo). Brown foi fortemente criticado por adotar imagens de IA, deixando seus fãs indignados: ele foi chamado de “antiético”, de publicar imagens “perturbadoras” e muitos ameaçaram parar de segui-lo no Instagram.
Uma das histórias mais fantásticas de 2023 ocorreu em abril, envolvendo IA e o consagrado fotógrafo Boris Eldagsen: ele ganhou um prêmio do concurso Sony World Photography e revelou que sua imagem, ganhadora na categoria Criativa, foi gerada por IA (veja abaixo). Eldagsen invadiu a cerimônia de premiação, que aconteceu em Londres, para anunciar a fraude. A organização do Sony World Photography Awards divulgou um comunicado dizendo: “Dadas suas ações e a declaração subsequente, houve uma tentativa deliberada de nos enganar. Portanto, não sentimos mais que somos capazes de iniciar um diálogo significativo e construtivo com ele.” Após esse fato, todos os grandes concursos mundiais passaram a ter muito mais cuidado com as imagens selecionadas.
A americana Levi’s, gigante da área têxtil, anunciou que estava gerando modelos de IA para “aumentar a diversidade” ao apresentar suas roupas (veja abaixo). “Acreditamos que os modelos devem refletir os nossos consumidores, e é por isso que continuamos a diversificar os modelos humanos em termos de tamanho e tipo de corpo, idade e cor da pele”, afirmou a empresa. É claro que o comunicado foi mal recebido por fotógrafos e modelos, o que levou a Levi’s a voltar atrás na sua decisão. “Essa inovação ainda está em teste, nos estágios iniciais. Isso não substituirá ou impactará as sessões de fotos, é simplesmente complementar à nossa forma atual de trabalho”, informou o novo comunicado.
Com uma lista de acusações pesando sobre o ex-presidente americano Donald Trump, o artista Elliot Higgins criou uma série de imagens dramáticas via IA mostrando Trump sendo derrubado no chão por policiais, sendo julgado no tribunal, preso em uma cela e de uniforme de presidiário no pátio da prisão (veja abaixo). Higgins usou o Midjourney para gerar as imagens e foi imediatamente banido pela plataforma. Embora eles tenham sido realmente enganados pelas imagens, eles se tornaram virais na Internet. Fotos falsas de IA envolvendo o Papa Francisco e o primeiro- ministro francês Emmanuel Macron também viralizaram em 2023
Algo grave em 2023 foram fotógrafos que geraram imagens por IA, postaram no Instagram (e em outras redes sociais) e enganaram milhares de seguidores. José Avery, por exemplo, admitiu que seus “retratos” elogiados (veja abaixo) eram de personagens falsos, o que fez muita gente criticá-lo por falta de ética e deixar de segui-lo.
Já um fotógrafo apresentado pela Vogue, Emanuele Boffa, também admitiu que estava publicando imagens de IA como retratos reais de moda (veja abaixo). Ao ser questionado por que não informava que as imagens em geradas por IA, Boffa disse: “James Cameron ou Christopher Nolan e muitos outros diretores e cineastas estão continuamente gerando imagens com a ajuda de computação gráfica ou IA. Não acho que as pessoas se importem muito, a inteligência artificial, quando usada corretamente, gera exatamente o que existe na mente do autor.”
Imagens de fake news geradas por IA passaram a preocupar muito grandes empresas de notícias. Uma delas foi a que mostrava uma explosão no Pentágono, nos Estados Unidos, causou uma breve quebra do mercado de ações. A imagem que se tornou viral no X (então conhecido como Twitter) mostra uma enorme nuvem de fumaça preta em um gramado do lado de fora do prédio do em Washington DC. O incidente levou o Twitter a expandir seu programa de verificação, o Community Notes, para combater imagens falsas ou enganosas. Depois dessa, muitas outras imagens de IA sobre a guerra da Ucrânia com a Rússia e de Israel com a Palestina foram criadas por ambos os lados dos conflitos para tentar manipular a opinião pública mundial.
Em 2024, a tendência é que as imagens de IA confundam ainda mais as pessoas, criando mais polêmicas e mais desinformação. Grandes grupos de mídia e fabricantes de câmeras, por exemplo, estão se unindo para criar protocolos de identificação de fotos digitais com uma espécie de selo de garantia contra manipulações via programas de edição ou plataformas de IA. Também evoluíram bastante os softwares que identificam imagens de IA, marcando-as como irreais. Entre tantas polêmicas, algumas criações via IA foram bem recebidas pela criatividade e pelo humor, como a série que colocou personagens históricos, como Jesus Cristo (veja abaixo), fazendo selfies.