12-2019
Olhar versátil
De casamento a imagens de natureza, brasileiro Jared Windmüller moldou seu olhar em diferentes lugares do mundo. Saiba mais
Por Ana Luísa Vieira
Uma rápida pesquisa pelo portfólio de Jared Windmüller é suficiente para se surpreender com a quantidade — e variedade — de trabalhos realizados pelo fotógrafo de 46 anos: há registros de casamentos, paisagens, retratos, cliques comerciais e até imagens abstratas. Tudo realizado desde 2005. Um olhar tão versátil, diz ele, é reflexo dos diversos lugares onde já morou – que vão de Santa Catarina, no Brasil, a Utah, nos Estados Unidos, passando por Kioto, no Japão, e Barcelona, na Espanha.
Nascido e criado em Joinville, Windmüller vem de uma família com raízes na arte: “Meu pai era artista circense e foi palhaço profissional por muitos anos. Enquanto viajava pelo circo, conheceu minha mãe”, relata. Ele reconhece as vivências da infância como parte importante da bagagem que o transformou no profissional que é hoje. “Somos em sete irmãos e perto de minha casa havia muito verde. Podíamos correr à vontade, pescar, comer fruta do pé, tomar banho de rio… O contato forte com a natureza contribuiu para que eu aprendesse a olhar ao meu redor e a enxergar a paisagem de maneira mais completa, com atenção a detalhes como cores, texturas, relevos e luzes”, comenta.
A fotografia surge
Adulto, o catarinense bem que tentou seguir uma profissão que dispensasse qualquer sensibilidade artística. Na década de 1990, com pouco menos de 30 anos, trabalhava como vendedor de equipamentos de ginástica. “O meu emprego exigia que eu viajasse o Brasil todo a trabalho. Quando vi as praias nordestinas pela primeira vez, fiquei fascinado por tamanha beleza e senti que precisava registrá-las”, conta.
Calhou de um parente colocar à venda, na mesma época, uma câmera. Foi a deixa para que Windmüller começasse a exercitar a fotografia. “Tinha uma próxima viagem marcada para Natal e a câmera já foi na bagagem – assim como uma edição de Fotografe, que foi minha primeira fonte de informações na área”, lembra.
De hobby a profissão
Por um bom tempo, a fotografia continuou na vida de Windmüller como hobby — em boa parte por causa das limitações do equipamento. “Tinha uma Canon analógica e era doloroso gastar rolos e mais rolos de filmes para testar novas técnicas”, confessa. O cenário se transformou depois que o catarinense se mudou para o Japão, no início dos anos 2000, após se casar com uma brasileira de ascendência japonesa que desejava morar e trabalhar no país de origem de seus avós. “Assim que cheguei lá, percebi que a tecnologia digital vinha com força total. A praticidade que encontrei na minha primeira DSLR – uma Canon EOS Kiss Digital – me estimulou a fotografar mais”, diz.
Inicialmente, o brasileiro clicava de forma amadora as famosas sakuras – cerejeiras ornamentais – em Kioto, centro- -sul do país. Um contato aqui e outro ali e Jared Windmüller conseguiu um trabalho publicitário para a Epson – uma das maiores fabricantes mundiais de impressoras, scanners e outros componentes eletrônicos. O registro, de uma gueixa, foi o turning point para que o hobby se convertesse em profissão. “Acabei por abrir um estúdio fotográfico em 2005 e lá trabalhei por dois anos, até sair do Japão”, lembra.
Fotos de casamento
Em 2007, o plano era voltar ao Brasil definitivamente – não sem antes passar uma temporada na Espanha, para estudar na Idep (Escola Superior de Imagem e Desenho) de Barcelona. Após concluir o curso de fotografia na capital catalã, Windmüller desembarcou em Florianópolis. “Os primeiros meses de volta ao Brasil foram de adaptação. Estava apreensivo sobre qual rumo tomar até fazer um curso sobre fotojornalismo em casamentos. Diferentemente do que pensei, essa área se mostrou atual, moderna e muito artística. Decidi apostar”, conta.
O tiro foi certeiro: “Nos ensaios Trash the Dress, podia explorar
minha paixão pelas fotos de paisagens e ao ar livre”. E a carreira de Windmüller deslanchou rápido, pois logo ele começou a dar palestras e workshops sobre fotografia de casamento pelo País. Ainda teve a honra de abrir, em 2013, o Wedding Brasil – um dos maiores congressos brasileiros sobre o tema.
Já com estúdio em Jurerê Internacional, praia mais badalada de Florianópolis (SC), ele ainda encontrou tempo para transformar o espaço em uma galeria de trabalhos em fine art — quando desengavetou boa parte dos registros de paisagens que havia feito no Japão e na Europa.
Natureza redescoberta
Foi durante uma viagem para fotografar o casamento dos sobrinhos em Utah, Estados Unidos, que o brasileiro pensou em mudar de país novamente: “Com o Brasil enfrentando uma crise sem igual e parte da família morando nos Estados Unidos, a decisão não foi tão difícil”, pondera. Desde 2016, Windmüller se estabeleceu em Clearfield, cidade de cerca de 30 mil habitantes, famosa por concentrar grandes indústrias bélicas dos EUA – e próxima dos famosos parques de Utah, recheados de cânions, que são um sonho de consumo para fotógrafos de paisagens.
Por ora, a maior ocupação do brasileiro no Oeste americano ainda são os casamentos. Como a carreira já tinha sido construída no Brasil, as coisas acabaram por fluir naturalmente por lá. E, embora ele esteja baseado em Utah, este ano já fez trabalhos em Miami, Washington e Atlanta. A próxima etapa do projeto nos Estados Unidos (depois de conhecer as principais locações) é produzir fotos em estilo fine art para impressão e venda, diz ele.
“Utah tem belezas únicas que não se encontram em nenhuma outra parte do planeta. Destacaria o Delicate Arch, no Parque Nacional Arches, e o Mesa Arch, em Canyonlands, para citar só alguns dos monumentos naturais”, diz. Ele se sente especialmente atraído pelas paisagens ao entardecer.
Lugares na bagagem
Cada um dos lugares por onde o brasileiro passou também exerce alguma influência sobre seu trabalho: “No Japão, a cultura do povo de apreciar a natureza de forma contemplativa, com famílias inteiras lotando as ruas para observar floração das sakuras, mudou meu olhar sobre a fotografia. Em Barcelona, tive meu primeiro contato com a arte contemporânea e pude desenvolver a fotografia abstrata, que foi uma experiência muito marcante”, explica.
No Brasil, trabalhando com casamentos, se viu exercitando a fotografia still life ao registrar detalhes de decoração, fotografia de moda ao fazer o making of das noivas e usou técnicas de fotojornalismo para captar a emoção do momento nas cerimônias. Isso sem falar das imagens que revelavam a arquitetura das locações e a beleza das paisagens. “Em um único evento, era possível explorar diferentes estilos e recursos, o que contribuiu muito para meu aprimoramento e crescimento profissional”, assegura Windmüller.
Em Utah, onde sai para fotografar “sempre que o tempo colabora”, a intenção é registrar paisagens incomuns que se mostram em mutação ao longo do ano. “Como as quatro estações aqui na região são bem definidas, há uma grande diferença na intensidade da luz e das cores que se apresentam em um mesmo local ao longo dos meses. Acompanhar tamanha diversidade é um desafio instigante”, afirma Windmüller.
Inspiração e equipamentos
A inspiração para todos os cliques, segundo o catarinense, vem de nomes como o americano Greg Gibson (fotojornalista vencedor de dois prêmios Pulitzer) e Peter Lik, australiano que, em 2014, fez história ao ter uma foto de um cânion no Arizona vendida por US$ 6,5 milhões.
Atualmente, os belos cenários de Utah são todos registrados com uma Canon EOS 5D Mark III, acompanhada principalmente das lentes zoom 70-200 mm e 24-70 mm e da fixa 28 mm, além de tripé, cabo disparador e um bom filtro polarizador. Devidamente editadas, as imagens são divulgadas em redes como Instagram e Facebook.
Matéria publicada originalmente em Fotografe Melhor 272