10-2019
A pele que habito
O fotógrafo Junior Luz fala sobre sua nova série, Nature Portrait, que foi exposta no Espaço Carrossel, no Museu do Louvre
Por Juliana Melguiso
Não é qualquer fotógrafo que consegue unir criatividade e inovação em um único ensaio. Essas características são a marca do goiano Junior Luz, um dos profissionais mais inquietos e ousados do Brasil atualmente. Quando conversou com Fotografe pela primeira vez, no final de 2012 (edição 195), ele começava a se firmar na área de fotografia de moda e apresentou ensaios feitos debaixo d’água, em rio e piscina. De lá para cá, seu trabalho só cresceu, e a mais recente inovação é transformar texturas da natureza em pele de mulheres, obras da série Nature Portrait.
O fotógrafo afirma que a principal mudança nesses seis anos é o detalhismo que envolve sua arte. “Muita coisa foi alterada de lá para cá, a começar pela quantidade de horas que passei a dedicar ao meu trabalho. Com isso, consegui produzir imagens mais conceituais, mais ricas em composição e em iluminação”, explica Junior Luz.
Hoje, o fotógrafo autodidata se dedica a exercitar a criatividade estudando e buscando inspirações para se desenvolver ainda mais. “Todas as minhas séries são pensadas com antecedência. Procuro sempre descarregar em meu trabalho tudo aquilo que absorvo nos estudos”, explica ele, citando a companheira Michelle Cordeiro como um dos maiores incentivos para fotografar – no começo da carreira de Junior Luz como fotógrafo de moda, Michelle atuava ao lado dele como costureira profissional e produtora.
Junior Luz conta também que foi sua mulher que o inspirou a focar no universo feminino, dando cada vez mais destaque às mulheres em seu trabalho. “Fotografar o feminino me dá a chance de dar visibilidade às mulheres, retratando-as de uma maneira artística para mostrar o quão belas e fortes elas podem ser”, avalia.
Instagram como aliado
Uma das plataformas favoritas do fotógrafo para divulgar trabalhos é o Instagram. Junior Luz ingressou nessa rede social em 2011 e, na época, não queria tomar seu tempo na fotografia utilizando a plataforma. Naquele momento, estava baseado em Curitiba (PR), de volta ao Brasil depois de um período de cinco anos em Londres, Inglaterra. Hoje, vivendo em Florianópolis (SC), acredita que o Instagram é indispensável para quem trabalha com fotografia. “É uma forma de conhecer e se inspirar com o trabalho de outras pessoas, trocar experiências e também colocar na vitrine da internet o seu trabalho. Posto meus vídeos e fotos, cuido da minha divulgação e acho que isso facilita muito por unir tudo em um só lugar”, afirma.
Com cerca de 135 mil seguidores no Instagram, ele informa que 90% dos pedidos de orçamento de trabalho chegam via rede social, ou seja, o retorno dessa nova forma de divulgação mostra que a plataforma é a ferramenta fundamental para quem deseja mostrar sua arte e conseguir novos clientes.
O fotógrafo defende que um dos principais problemas com a fotografia hoje é o “modo automático”, ou seja, muitos fotógrafos se acomodam e está cada vez mais comum ver imagens praticamente replicadas de outros profissionais, sem nenhum diferencial. “Quando você cria um trabalho único, consegue se manter em qualquer área. Sempre pensei em criar imagens que impactassem o público e que fossem diversificadas. Isso iria me diferenciar e mostrar minha imaginação para o mundo”, ensina o fotógrafo.
Natureza em alta
A série Nature Portrait nasceu de uma cisma do fotógrafo em imaginar diferentes texturas como a pele das pessoas. Nesse trabalho, a textura é baseada em folhas de diversas plantas e pétalas de variadas flores. Esse material é colado no rosto da modelo e dá a ideia de uma pele texturizada pela natureza. Segundo Junior Luz, o projeto surgiu há um ano e meio – ainda está em andamento –, e o primeiro ensaio foi realizado no quintal da casa dele, com as folhas e flores que lá existiam. “Todos os meus projetos são feitos com um custo mínimo de dinheiro. Isso mostra para as pessoas que a intenção é criar fotos ousadas com poucos recursos. Basta ser criativo”, comenta.
Ele informa que leva uma hora em média para a preparação da maquiagem de cada modelo e mais uma hora para a realização de cada foto. Uma curiosidade é que as texturas são coladas com cola branca comum, uma por uma, no rosto das modelos. Porém, isso faz com que o processo de fotografar não possa ser demorado, pois as pétalas e folhas mais sensíveis começam a murchar e se deteriorar.
Em 2019, Junior Luz teve seu trabalho exposto no Espaço Carrossel do Louvre, anexo ao Museu do Louvre, o maior museu de arte do mundo, em Paris, na França. Para ele, ver seu trabalho recebendo reconhecimento, tanto interna como externamente, é a realização de um sonho. “É fantástico ver que depois de oito anos de muito esforço e dedicação minha arte vem ganhando destaque no Brasil e no exterior. Ver meu trabalho exposto em Paris é certeza de estar no caminho certo.”, afirma.
José Luiz Guimarães Junior no documento de identidade, esse fotógrafo de 37 anos, admirador dos americanos David La Chapelle e Annie Leibovitz, incorporou o Luz como um nome artístico. Domador e encantador da luz, é dessa matéria- -prima que produz sua magia com ingredientes básicos da fotografia: técnica, criatividade e ousadia.
Matéria publicada originalmente em Fotografe Melhor 268