01-2017
Em busca da foto perfeita
Por Diego Meneghetti
Antes mesmo de pensar em enquadramento e composição, a primeira decisão a ser feita após ligar uma câmera fotográfica é escolher como será o funcionamento dela. Os modelos mais recentes de DSLRs, mirrorless ou mesmo algumas compactas avançadas oferecem diversas formas de exposição, que definem o nível de controle que o fotógrafo terá sobre a câmera, do totalmente manual ao automático completo.
Esse ajuste não é meramente técnico. A decisão tem influência direta nas possibilidades estéticas e de tratamento de imagem. No modo manual, o fotógrafo pode controlar todos os aspectos. Mas o ajuste preciso da exposição pode demandar certo tempo e ainda assim ocasionar erros. Já no automático a câmera configura tudo o que é necessário para uma captura instantânea e “perfeita”. Contudo, o resultado pode não ser o esperado. Em algumas câmeras, entre esses dois extremos, há quase uma dezena de outros modos, que mesclam ajustes manuais e automáticos.
A escolha de como a câmera irá funcionar é feita por meio do disco de modos de exposição, geralmente localizado na parte superior do corpo. Na maioria das vezes, basta girar o disco para alternar entre as opções – alguns modelos, porém, têm uma trava no centro ou na lateral do disco que deve ser pressionada para que ele possa ser girado.
Nas DSLRs mais simples de Canon e Nikon o disco fica do lado direito do corpo; já nas câmeras mais avançadas dessas marcas, que trazem um LCD de informações nessa posição, o comando fica do lado esquerdo. Nos modelos top de linha, a escolha do modo de operação não é feita por disco, mas pelo botão Mode. Já nas compactas e mirrorless a posição varia bastante – na linha Sony NEX, por exemplo, o disco é virtual, acessível via menu.
Modo automático: para não errar
A opção mais comum para quem acabou de comprar uma câmera (ou para quem ainda não sabe operá-la) é o modo Automático, geralmente identificado por um ícone verde no disco. Essa opção, presente em todas as câmeras digitais (exceto nas profissionais mais avançadas), é particularmente útil para os iniciantes, pois permite fazer a foto sem que seja preciso ajustar qualquer parâmetro. Basta ligar, apontar e disparar.
No modo Automático, a câmera irá configurar os ajustes de acordo com as condições de disparo, sendo útil para qualquer situação. Mas ela não permite que se faça qualquer regulagem na exposição, nem mesmo na sensibilidade ISO.
De forma geral, a câmera no automático tenta “não errar”, já que é programada para fazer uma captura com exposição equilibrada e velocidade de obturador o mais rápido possível. Assim, a foto fica com uma boa luz, nitidez e foco em algum ponto, pois nesse modo o disparo só é feito depois do autofoco identificar algum elemento na cena (se o autofoco não conseguir isso, a câmera não dispara).
Se a câmera identificar que há pouca luz, ela irá preferir disparar o flash em vez de usar uma velocidade de obturador muito lenta ou uma sensibilidade ISO elevada. Certos modelos possibilitam que o fotógrafo defina a faixa de sensibilidade ISO usada no automático. Para as situações em que não é possível disparar flash, como em peças de teatro , a maioria das câmeras oferece o modo Auto com Flash Desligado, identificado pelo ícone de raio cruzado.
Ainda que o modo automático seja extremamente versátil e cada vez mais preciso, qualquer decisão estética fica a cargo da câmera, que tenta identificar o tema da foto por meio da luminosidade, das cores e do movimento. O problema é que a câmera não “sabe” a intenção do fotógrafo. Para tentar solucionar essa limitação, alguns modelos da Canon têm o modo Criativo Auto, que permite que o fotógrafo selecione sua preferência estética, como deixar o segundo plano desfocado ou nítido.
Modos de cena: a receita pronta na câmera
Além do modo totalmente automático, câmeras mais voltadas para iniciantes têm ainda os modos de Cenas (Scene), que são situações pré-configuradas nas quais a câmera define os ajustes de acordo com a seleção feita pelo fotógrafo – e não pelo que a câmera “compreende” da cena, como no modo automático. São receitas prontas com base em dados de centenas de imagens parecidas e que são processadas pela câmera.
A quantidade de modos de cena varia com o modelo da câmera e o público-alvo: DSLRs básicas, mirrorless e compactas, direcionadas a fotógrafos amadores, geralmente têm uma variedade maior. No disco de modos, essas opções são identificadas por ícones alusivos ao próprio motivo da foto, como retrato, paisagem, close, esporte, foto noturna, retrato de criança, panorâmica, pôr do sol, crepúsculo, praia ou neve, entre outros (em algumas câmeras, deve-se acessar o modo Scene para chegar a eles). Cada uma das opções otimiza a regulagem de exposição e os parâmetros de acordo com a situação selecionada, o que permite manter a criatividade mesmo com a exposição automática.
Além dos ajustes de abertura de diafragma, velocidade de obturador de sensibilidade ISO (que diferem em cada modo de cena), a câmera também aplica um tratamento diferenciado de cor, contraste, saturação e nitidez. Esses ajustes coincidem com o recurso de estilo de imagem, que pode ser regulado nas câmeras por meio do menu. Nos modelos da Canon, a opção é denominada Estilo Imagem; nos da Nikon, leva o nome de Picture Control; nos da Sony, Modo Criativo.
No modo de cena Retrato, por exemplo, a câmera dá prioridade para usar um diafragma mais aberto, com o objetivo de desfocar o fundo. Ao mesmo tempo, o processador da câmera regula a imagem logo após a captura para suavizar os tons de pele. Já em Pôr do sol configura a câmera para não disparar o flash embutido nem usar o iluminador de autofoco. Logo após a foto, a câmera processa a imagem para preservar os matizes mais profundos vistos no pôr e no nascer do sol. A explicação de cada modo de cena pode ser encontrada no manual da câmera ou no menu, nas telas de ajuda (botão “?”).
Modo Programa: automático com ajustes
Identificado pela letra “P”, o modo Programa (ou Autoprogramado, nas câmeras da Nikon) é uma variação do modo automático que permite que o fotógrafo regule alguns ajustes, como equilíbrio de branco, sensibilidade ISO, compensação de exposição e flash. É um modo interessante para estudos de luz, já que o fotógrafo não se preocupa com o ajuste de abertura de diafragma e velocidade de obturador, definido pela câmera de acordo com as condições da cena.
Em várias DSLRs e mirrorless recentes, o modo Programa permite que o fotógrafo escolha combinações de abertura e velocidade de obturador a fim de gerar uma estética mais adequada. Mas a faixa de combinações possíveis não é extensa. Ao girar o disco de seleção, os dois ajustes de exposição são modificados. Especificamente nas câmeras da Nikon, essa possibilidade é identificada por “P*” e leva o nome de Programa Flexível.
Modos de Prioridade de Abertura e Velocidade
Uma das formas mais práticas de se ter controle sobre a câmera e ainda assim manter a eficiência do modo automático é optar pelo modo de Prioridade de Velocidade, identificado pela letra “S”, ou Prioridade de Abertura, selecionado no disco pela letra “A”. Nas câmeras da Canon, esses modos levam siglas diferentes, “Tv” e “Av”, respectivamente.
Em cada um dos modos, o fotógrafo tem total controle ou da abertura ou da velocidade, e a câmera ajusta o outro automaticamente para equilibrar a exposição de acordo com o fotômetro. Assim, é possível definir a estética com segurança: se a intenção do fotógrafo for desfocar o segundo plano, como em um retrato, o modo de Prioridade de Abertura é o ideal. Para registrar esportes ou temas em movimento, o modo de Prioridade de Velocidade é o mais indicado.
Como nesses dois casos a câmera fica responsável por equilibrar a exposição automaticamente, é preciso atentar para o uso do recurso de compensação de exposição (botão +/-), necessário para quando o fotômetro não ficar totalmente equilibrado (ou “zerado”, no jargão fotográfico). Isso ocorre quando há elementos na cena que refletem muita ou pouca luz, como as cores preto e branco, as quais enganam a leitura do fotômetro.
Cenas com elementos que refletem muita luz demandam uma compensação positiva. Por outro lado, quando há elementos que refletem pouca luz, a compensação é negativa. O controle de compensação de exposição também é ativo durante o modo Programa.
Modo Manual: controle total do fotógrafo
Presente em todas as DSLRs e mirrorless (e em algumas compactas avançadas), o modo Manual é o ideal para quem quer treinar a técnica fotográfica, pois permite que o fotógrafo ajuste todas as configurações. Em todas as câmeras, esse modo é identificado pela letra “M”.
No Manual, entra em cena o fotômetro, sensor que informa se a configuração da câmera naquele momento é suficiente para uma exposição equilibrada. Caso contrário, o fotômetro indica se a foto ficará subexposta (escura demais) ou superexposta (clara demais).
Assim, o ajuste manual da exposição deve ser feito pela escolha conjunta de abertura do diafragma da lente, velocidade do obturador e sensibilidade ISO. É claro que se o ajuste de um ou mais parâmetros não for preciso, a imagem pode ficar clara ou escura demais ou tremida.
O modo manual é especialmente útil para fazer fotos com longa exposição, como de fogos de artifício ou do céu noturno. Para isso, é necessário regular a velocidade para a opção “Bulb” (B) ou “Time” (T), nas quais o obturador fica aberto durante o tempo em que o botão disparador da câmera (ou de um controle remoto) ficar pressionado.
Disco de controle de exposição da Canon
Na maioria das DSLRs da Canon, o disco de seleção de modos é dividido em dois grupos. O primeiro deles, denominado “Zona Criativa”, fica localizado acima da opção Automático (retângulo verde) e reúne os tradicionais modos Manual (M), Programa AE (P), Prioridade de Abertura (Av) e Prioridade de Velocidade (Tv).
O segundo grupo, chamado de “Zona Básica”, oferece diferentes modos de cena, que variam conforme o modelo e a geração da câmera. Na EOS T4i, por exemplo, existem as opções retrato, paisagem, grande plano, esportes, retrato noturno, cena noturna sem tripé e controle de contraluz HDR. Em alguns modelos, o disco de modos traz uma opção personalizada, identificada pela letra “C”, que permite ao fotógrafo criar um modo próprio para as opções da câmera.
Disco de controle de exposição da Nikon
As câmeras da Nikon oferecem um disco de seleção com os tradicionais modos P, A, S e M, geralmente destacados dos outros modos. As opções automáticas ficam logo a seguir, com o ícone verde do auto completo e do raio cruzado da opção flash desligado.
A quantidade de modos de cena disponíveis no disco varia com o perfil da câmera. Os modelos mais básicos, por exemplo, trazem seis modos de cena, mais um modo especial Guide, que funciona como um tutorial de fotografia para os iniciantes.
O modelos intermediários têm cinco modos de cena acessíveis diretamente no disco e outras 11 situações pré-programadas na opção Scene. Já em modelos mais avançados, o disco de modos inclui duas posições customizáveis, C1 e C2, nas quais o fotógrafo pode personalizar o funcionamento da câmera.