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01-2017

Descubra o apaixonante mundo macro

Dicas Técnicas   /  
Supermacro de uma abelha com uso de fole e tubos de extensão para aumentar o fator de ampliação do tema

Supermacro de uma abelha com uso de fole e tubos de extensão para aumentar o fator de ampliação do tema

Com acessórios simples, como filtro close up e anel de inversão, ou sofisticados, como tubo de extensão e fole, a macrofotografia pode ser um convite para imagens incríveis

Explorar o mundo macro é para quem não se contenta em fotografar apenas o que normalmente consegue enxergar. Movido pela curiosidade e pela criatividade, o fotógrafo dirige o foco para detalhes mínimos e enquadra cenas quase invisíveis em busca de grandes imagens. Mas muita gente pensa em macrofotografia como a arte de conseguir ampliações incríveis de detalhes de insetos e de flores. Ela vai muito além disso, pois pode envolver vários temas, como gastronomia, arquitetura, fine art e documentação científica, e é usada inclusive em estúdio por profissionais que registram joias ou pequenos produtos. Outro erro comum é achar que uma lente macro só serve para fazer fotos com foco a curtíssima distância. Nada disso. Uma objetiva macro de 100 mm, por exemplo, pode ser usada como qualquer outra 100 mm para fazer retratos, por exemplo.

Além das objetivas especialmente construídas para a finalidade, há uma série de acessórios e técnicas para conseguir proporções de ampliação a partir de 1:1. Essa definição vem do tempo do filme: o tema fotografado tem exatamente o tamanho que ocupa na área de um fotograma de 35 mm (24 x 36 mm), ou seja, o 1:1 quer dizer que cada milímetro do tema ocupa 1 milímetro no fotograma. Essa relação é oferecida pela maioria das lentes macro atuais, mas na era digital a referência é o sensor full frame.

A ponta de uma caneta esferográfica com ampliação superior ao padrão 1 por 1

A ponta de uma caneta esferográfica com ampliação superior ao padrão 1 por 1

A questão foco

O grande desafio da macrofotografia é conseguir uma área de foco no tema na mais curta distância possível com a maior ampliação possível. Para conseguir focar em algum ponto de forma nítida, o fotógrafo precisa ter um controle milimétrico da profundidade de campo que, em macro, é muito crítica. Contudo, o uso do foco seletivo é um dos charmes da macrofotografia.

De forma resumida, a macrofotografia é a técnica de fotografar a curtíssima distância, ampliando assuntos com a ajuda de objetivas especiais e acessórios dedicados, como tubos de extensão, anéis de reversão, foles e filtros close up. Os mais básicos e populares são o filtro close up e o anel de inversão de objetiva. Os mais sofisticados são os tubos de extensão e os foles. Todos com diferenças importantes em relação a preço, qualidade da imagem obtida, grau de ampliação e facilidade de manuseio.

Aranha registrada com grande fator de ampliação graças a lente macro com tubo de extensão

Aranha registrada com grande fator de ampliação graças a lente macro com tubo de extensão

Por serem mais baratos, o filtro close up e o anel de inversão são os indicados para quem está começando ou que faz fotos macro de vez em quando. Objetivas macro, tubos de extensão e fole são alternativas para profissionais ou apaixonados pelo assunto. Custam mais caro, porém, geram imagens de melhor qualidade.

Dicas básicas

A profundidade de campo extremamente reduzida é algo típico em macrofotografia e depende da objetiva, do grau de ampliação da imagem (quanto maior, menor a profundidade de campo) e da abertura (diafragma) ajustada. E esses limites acabam ditando algumas regras, como o enquadramento: a dica básica é manter o tema em “paralelo”, ou seja, deve estar em um único plano, fotografado de lado. Outro macete é trabalhar com diafragmas sempre fechados (f/16, f/22 ou f/32) – pode-se usar o modo de exposição em prioridade de abertura. O foco é geralmente manual, a não ser em objetivas macro com sistema AF confiável.

Câmera com longo tubo de extensão e lente invertida para aumentar a ampliação

Câmera com longo tubo de extensão e lente invertida para aumentar a ampliação

Em macro, o método de focalização mais eficiente é por aproximação em relação ao assunto. No início, dá um pouco de trabalho achar o foco. E, com ampliações acima de 1:1, encontrar o ponto de foco fica ainda mais difícil. Um tripé (ou monopé) facilita a operação. Com a máquina na mão, a dica é prender a respiração para fazer o foco e disparar. Alerta: há algumas objetivas zoom convencionais que incorporam o modo macro, mas não são eficientes. Devido à mobilidade de componentes óticos, o sistema facilita o foco em distâncias menores que as lentes convencionais, porém, jamais conseguem uma aproximação igual à das macros dedicadas.

Já a iluminação de temas a curta distância requer o uso de flashes específicos – do tipo circular, que se encaixa na frente da objetiva – ou de um acessório conhecido como bracket (suporte para flash). O ring flash ou flash de anel, com número-guia entre 12 e 24, garante uma iluminação sem sombras incômodas, permite que o fotógrafo se aproxime do tema e use diafragmas bem fechados. A desvantagem é a luz frontal, muito plana e pouco adequada para temas com textura.

O ring flash é o acessório de iluminação mais básico para macro

O ring flash é o acessório de iluminação mais básico para macro

Para evitar essa luz muito plana dos anéis, alguns fotógrafos preferem usar o bracket, que une, num só conjunto, a câmera e duas unidades de flash, uma de cada lado da lente. Os flashes ficam presos a dois braços flexíveis e são ligados à câmera via cabo de sincronismo. O sistema tem muita versatilidade, pois os braços podem ser ajustados para alterar a direção da luz.

Um flash em ângulo de 45º, por exemplo, produz uma imagem mais equilibrada, com ótima reprodução da textura e das formas do tema, e o outro, na lateral, garante o preenchimento das sombras. O bracket não é muito fácil de ser encontrado no Brasil. São mais comuns em boas lojas de fotografia nos Estados Unidos e custam entre US$ 60 e US$ 300.

Com o bracket, os dois flashes podem ter a luz direcionada de várias formas

Com o bracket, os dois flashes podem ter a luz direcionada de várias formas

A lente macro

Na era digital, com o avanço dos equipamentos, a macrofotografia às vezes é confundida com conceito de close up. Tecnicamente, close é tudo que se fotografa de perto. Já a macrofotografia começa quando a imagem projetada pela lente para o sensor (padrão full frame) tem dimensões iguais às do objeto fotografado, como explicado antes no caso da ampliação (em inglês, magnification) de 1:1. Com isso, as objetivas para macro são itens especializados de alta sofisticação e, usualmente, também de preço elevado.

Lente Canon MP-E 65 mm f2.8 1-5x Macro

Lente Canon MP-E 65 mm f2.8 1-5x Macro

A maioria dessas lentes específicas é fixa e não zoom, pois isso permite uma ampliação máxima maior. O foco é obtido deslocando-se um grupo de elementos flutuantes dentro da objetiva, de forma que o elemento frontal não se mova. A precisão mecânica na construção é altíssima, pois qualquer perda de nitidez causada por um elemento óptico fora de centro é muito mais perceptível do que numa lente convencional.

Um paradigma técnico de lente macro é um modelo da Canon, a MP-E 65 mm f/2.8. O anel de foco dela é, na realidade, um controle de extensão que dá várias voltas até o barril atingir um comprimento enorme, com ampliação máxima de 5:1, cobrindo uma área minúscula de apenas 5 x 7 mm. E, devido à entrada de luz proporcionalmente menor, uma lente dessa categoria torna obrigatório o emprego de uma fonte de luz dedicada, como o flash Canon MT-24EX Macro Twin Lite.

Olhos de mosca em foto feita com a Canon MP-E 65 mm

Olhos de mosca em foto feita com a Canon MP-E 65 mm

As lentes específicas para macrofotografia estão disponíveis em diversas distâncias focais. De maneira geral, uma 50 mm produz uma imagem a 1:1 à distância de cerca de 20 cm, uma 100 mm à 30 cm e uma 200 mm à 50 cm. A perspectiva é mais “alongada” nas lentes mais curtas e mais “achatada” nas mais longas. No entanto, não é preciso escolher a lente mais longa. Depende do uso que será dado a ela: uma 50 mm ou 60 mm fará um excelente trabalho em fotografia de flores, por exemplo. Lentes de 90 mm a 105 mm são mais recomendáveis para insetos pequenos. E as mais longas são indicadas para não perturbar os temas, quando se trata de seres vivos.

Luz e foco

A maioria das objetivas macro tem abertura máxima de f/2.8 e mínima de f/22 ou f/32. Isso é bastante adequado, já que os temas que serão alvo da lente estarão muito próximos. Essa situação pede que se ajustem aberturas mais estreitas, mas é preciso considerar que em geral a máxima nitidez no ponto de foco é atingida em torno de f/8. A partir de f/11, mais ou menos, a difração (um efeito normalmente presente em todas as objetivas) começará a diminuir a resolução da imagem. Isso significa que é preciso achar um ponto de compromisso entre uma profundidade de campo satisfatória para o tema e as perdas causadas pela difração.

Já o autofoco mais atrapalha que ajuda em macrofotografia. A câmera mostra-se ineficiente para encontrar o foco de forma automática nessas condições. O usual é trabalhar em foco manual, seja ajustando o anel à frente da lente ou deslocando a câmera inteira para frente ou para trás conforme necessário. Um desvio de fração de milímetro no plano de foco pode alterar por completo a aparência da imagem. E, quanto mais amplo o diafragma, mais difícil será colocar em foco o ponto desejado.

Macro de grãos de romã com foco em toda a extensão do quadro

Macro de grãos de romã com foco em toda a extensão do quadro

Para achar o ponto de foco perfeito, é preciso ter o equipamento e o tema firmes. O ideal é ter a câmera montada em tripé ou monopé. Ao fotografar detalhes de flores de perto e insetos em galhos e ramos de plantas, compensa usar um tripé auxiliar com pinças para segurar o tema no lugar e reduzir tremores causados pelo vento.

Focaliza-se o tema na máxima abertura e, depois, fecha-se o diafragma para fazer a foto. Em algumas situações, a luz na ocular será insuficiente para fazer uma pré-visualização confiável da imagem. Assim, a função Live View (imagem ao vivo) da câmera será de grande auxílio nesse momento por mostrar exatamente o que a objetiva está “enxergando”, em qualquer abertura. Como a profundidade de campo é crítica, mesmo com o diafragma mais fechado, as fotos devem ser planejadas de maneira a privilegiar uma parte do tema. Ou, então, o detalhe mais importante deverá ser fotografado “de lado”, em posição paralela ao plano do sensor.

Aqui o inseto foi fotografado de lado para que o foco fosse mais abrangente

Aqui o inseto foi fotografado de lado para que o foco fosse mais abrangente

A macrofotografia impõe desafios especiais à iluminação, pois a quantidade de luz capturada tende a ser menor devido à abertura efetiva estreita e à direção de onde ela vem a ser bem mais restrita. Com luz natural e folhagem ou flores, é usual obter-se bons resultados com luz traseira ou lateral filtrada através do tema quando ele é translúcido. Por isso, é recomendável levar um rebatedor de luz, que pode ser um simples cartão branco ou prateado.

Tubo (ou anel) de extensão

Ao focar a curta distância com uma lente convencional, a imagem nítida do tema se forma em um plano mais afastado do sensor. Os tubos (ou anéis) de extensão resolvem justamente esse problema. Encaixados entre a objetiva e a câmera, aumentam a distância entre o sensor e a objetiva para permitir o foco a uma distância mais curta do que a distância mínima exigida pela objetiva.

A macrofotografia com tubos garante imagens de alta qualidade, já que o sistema óptico câmera-objetiva não é afetado. Além disso, um conjunto de tubos permite uma ampliação maior do que as proporcionadas por lentes macro. Por isso, são vendidos um a um ou em conjunto. Os mais comuns são os de largura entre 10 mm e 30 mm.

E quanto maior a extensão dos tubos, maior a ampliação da imagem. Se o comprimento dos tubos acoplados à câmera for igual a distância focal da objetiva, a ampliação é 1:1 (tamanho real). Exemplo: uma lente de 50 mm com tubos que somem 50 mm de extensão.

Conjunto de tubos ou aneis de extensão

Conjunto de tubos ou aneis de extensão

Também é possível usar tubos com objetivas macro. Como a maioria das macros gera ampliação 1:1, o uso em conjunto com tubos aumenta a “potência” da lente – a macro 50 mm é a preferida por dar maior profundidade de campo. Mas o grande inconveniente é a perda de luminosidade. E quanto maior a extensão do tubo, maior o problema. A macro 50 mm com tubos de 50 mm perde até 2 pontos de luz. Porém, a leitura do fotômetro TTL compensa automaticamente essa perda.

É recomendável, no entanto, tomar cuidado com fundos escuros que enganam o fotômetro e pedem compensação entre – 0,5 e -1 ponto. A maioria dos tubos de extensão tem conexões eletrônicas ou mecânicas entre a câmera e a objetiva que mantêm o autofoco e o automatismo do diafragma. Com isso, é mantida a facilidade de focar na abertura máxima e fazer a foto com o diafragma mais fechado, pois a abertura é ajustada automaticamente no momento do disparo.

Lente macro da Canon acoplada a três tubos de extensão

Lente macro da Canon acoplada a três tubos de extensão

Fole de extensão

O princípio de uso do fole é o mesmo do tubo de extensão: serve para aumentar a distância entre a objetiva e o plano do sensor. O fole assegura o foco a curtíssima distância e amplia a imagem bem mais que os tubos, já que alcança uma extensão bem maior – a maioria pode ser “esticada” até cerca de 30 cm.

E, como os tubos, sofre também com a perda de luz à medida que se aumenta o comprimento. Contudo, é difícil encontrar fole em lojas no Brasil. Para quem deseja ter um, o caminho mais adequado é comprar no exterior ou procurar em lojas que vendem equipamentos de segunda mão.

O fole de extensão é um dos mais antigos acessórios para macro

O fole de extensão é um dos mais antigos acessórios para macro

O fole é feito de tecido ou papel especial, dobrável como uma sanfona, que une a câmera e a objetiva. Os atuais têm montagem tipo baioneta para acoplar a câmera e a objetiva. O acessório desliza sobre um trilho, comandado por um botão, esticando ou encolhendo. Com a câmera, forma um conjunto pesado para ser carregado em fotos externas.

A grande aproximação (acima de 1:1) deixa o foco bastante crítico, quase impossível de ser mantido sem um apoio fixo. Por isso, o trabalho com o fole é minucioso, feito com tripé e em estúdio. O clique deve ser feito com disparador de cabo ou por controle remoto.

O fole de extensão é conectado entre a câmera a lente

O fole de extensão é conectado entre a câmera a lente

Para fazer macro com fole, pode-se usar uma objetiva convencional grande angular, a normal de 50 mm ou as meias-teles de 80 a 105 mm. A grande angular e a normal são as mais utilizadas por conseguirem um grau de aproximação e ampliação bem maior do que as teles. Já as objetivas macro são ideais para o trabalho com fole, combinação que resulta em fotos de alta qualidade e ampliações de até 10:1, o limite na macrofotografia. O fole automático tem elementos mecânicos que mantêm o automatismo do diafragma, ou seja, foca-se na abertura máxima e, no disparo, o diafragma é fechado automaticamente.

Anel de inversão

O recurso de inverter a objetiva é muito simples, barato e ideal para quem pretende se aventurar pela primeira vez em macrofotografia. Basta acoplar a objetiva ao contrário na câmera usando um anel adaptador – acessório difícil de ser encontrado à venda no mercado brasileiro, a não de segunda mão. Portanto, uma dica é comprá-lo no exterior.

Com o uso do anel adaptador, a objetiva invertida registra imagens de boa qualidade em quase todo o campo óptico, mesmo nas bordas. A profundidade de campo, porém, é muito limitada. Em câmeras DSLR é possível fazer a fotometria com o diafragma fechado manualmente. Não dá para usar o autofoco, pois a inversão da lente “desliga” todas as funções eletrônicas comandadas pela câmera. Por isso, o diafragma permanece totalmente aberto, o que não impede a regulagem da exposição automática.

O anel de inversão permite o uso de uma lente comum invertida para fazer macros

O anel de inversão permite o uso de uma lente comum invertida para fazer macros

Com ISO 400, pode-se trabalhar com velocidades acima de 1/60s e com diafragmas mais fechados (se a objetiva tiver anel externo de ajuste do diafragma). O recurso de inverter a objetiva funciona melhor com grande angular ou a normal 50 mm. O foco é feito aproximando e afastando a câmera do tema, o que requer paciência no começo – tripé ou monopé facilita a focalização.

Acoplador de rosca

O acessório é uma variação do inversor. Tem duas roscas de filtro com a função de permitir rosquear uma lente na outra, frente a frente. Uma das lentes fica montada normalmente na câmera, mantendo intactas as funções habituais de abertura e foco automático. Diante dela, a segunda lente fica invertida. É uma opção muito barata e conveniente.

O acoplador de rosca possibilita conectar duas lentes, sendo a segunda invertda

O acoplador de rosca possibilita conectar duas lentes, sendo a segunda invertda

Filtro close up

O filtro close up é a opção mais simples e barata para iniciantes em macrofotografia. Funciona como uma lupa que, rosqueada à frente da objetiva (como qualquer outro filtro), reduz a distância mínima de foco e amplia a imagem. Os filtros têm montagem universal e podem ser usados em qualquer objetiva. O fator de ampliação de cada filtro é medida em dioptrias. Os mais comuns são os filtros +1, +2 e +4. Também é possível encontrar filtros +7 e +10. O conjunto com três (geralmente +1/+2/+4) é o mais vendido no Brasil.

A exposição é feita normalmente, sem compensações. O uso de ISO 400 ou 800 garante velocidades mais altas e diafragmas mais fechados, como f/22 ou f/16. O foco é feito aproximando ou afastando a câmera do tema. E quanto maior o fator de ampliação do filtro, mais difícil é a missão de achar o foco. Isso porque quanto maior a ampliação do tema, menor a profundidade de campo.

Conjunto de filtros close up com diferentes dioptrias

Conjunto de filtros close up com diferentes dioptrias

O filtro close up pode ser usado em conjunto, somando os fatores para conseguir uma ampliação maior. A desvantagem é a grande perda de nitidez nas bordas da imagem, aberração típica de lentes com apenas um elemento óptico.

 

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