12-2016
Entenda o uso do bracketing
Por Diego Meneghetti
O bracketing é uma das várias técnicas herdadas da fotografia da era química. Basicamente, consiste em fazer três ou mais fotos de uma cena, com mesmo enquadramento, variando algum ajuste da exposição. No uso mais frequente, além da captura com a fotometria sugerida pela câmera, são feitas mais duas fotos, uma superexposta e outra subexposta. Essa variação na exposição pode ser de 1 ou mais pontos (EV) em cada registro. E geralmente é feita na velocidade do obturador para mudar a luminosidade e manter a profundidade de campo da foto.
Na era do filme (principalmente com cromos e slides), esse recurso era bem eficaz para evitar erros de fotometria, já que o resultado só seria visto depois da revelação. Em cenas que não se repetiriam, como na cobertura de eventos, ou com muita diferença de luminosidade e contraste (difíceis para o fotômetro medir a luz com precisão), o fotógrafo usava o bracketing para garantir que ao menos uma das imagens registradas teria a exposição adequada.
Na fotografia digital, em que o resultado pode ser conferido logo após o clique (e ter a exposição corrigida, se for necessário), o bracketing perdeu muito de sua função de “prevenir erros” durante a captura. Por outro lado, ganhou novas aplicações, principalmente para aprimorar o tratamento da imagem feito no computador.
Para várias aplicações
O bracketing de exposição ainda pode ser útil, por exemplo, para ganhar tempo. No trabalho cotidiano, em vez de regular a fotometria com muita precisão durante a captura, é possível usar essa técnica para subexpor a foto em alguns pontos, gerando opções para o momento da edição.
Na prática, o que o fotógrafo faz é registrar a primeira imagem com a fotometria indicada pela câmera e repetir a captura, regulando a exposição em 1 ou 2 pontos mais fechados (veja mais abaixo como abrir ou fechar pontos). Como a captura digital tem deficiência nas altas luzes, a captura subexposta privilegia essas áreas ao registrar detalhes nas regiões mais claras (e que poderiam sair estouradas na exposição indicada pelo fotômetro). Durante o tratamento, faz-se o clareamento das áreas mais escuras, equilibrando a luminosidade.
Outro uso prático do bracketing é no controle do desfoque da foto. Nesse caso, a alteração é na abertura do diafragma e resulta em imagens com variação da profundidade de campo (e não da luminosidade). Dessa forma, com várias fotos realizadas com aberturas de diafragma distintas, é possível escolher, posteriormente, qual delas gerou o desfoque mais agradável, ou ainda em qual o elemento principal da foto está mais nítido.
A técnica também pode ser usada para variar outros aspectos, como profundidade de campo, luz do flash ou mesmo white balance. É possível, por exemplo, fazer várias fotos de algum objeto com profundidade de campo restrita, variando a posição do plano em foco. Depois, no computador, as fotos são agrupadas para obter uma imagem com o controle exato do que aparece nítido ou desfocado na foto. Essa técnica, conhecida como DOF stacking, foi tema de uma matéria na edição 184 de Fotografe.
Alcance dinâmico
Na fotografia digital, um dos usos mais frequentes da técnica de bracketing é justamente para ampliar as possibilidades de tratamento no computador com a criação de imagens com alto alcance dinâmico, também conhecido como HDR (sigla para high dinamic range).
Em comparação com o olho humano, as câmeras têm uma sensibilidade muito menor à luminosidade do ambiente. Elas são limitadas tanto no registro das áreas mais escuras quanto nas mais claras. Para aumentar essa faixa (range) de luminosidade que é registrada pela câmera, o fotógrafo pode realizar um bracketing de exposição com 3, 5 ou 7 imagens e juntá-las via software de edição, como o Photoshop. A captura deve ser realizada com o uso de tripé e controle remoto (ou temporizador), para evitar qualquer movimentação da câmera.
Esse recurso é útil para reproduzir cenas que têm muita diferença de luminosidade, como em fotos de arquitetura com ambientes internos e externos na mesma imagem, ou de paisagens, com áreas iluminadas pelo sol e outras escondidas pela sombra.
Autobracketing
A técnica do bracketing pode ser feita no modo de operação manual da câmera. Basta regular o fotômetro para capturas subexpostas e superexpostas. Já nos modos de prioridade de velocidade ou de abertura, o controle de compensação de exposição (ícone de +/-) faz a variação necessária. Contudo, várias DSLRs oferecem o recurso de autobracketing de forma automatizada – e não foto a foto como nas anteriores.
Em câmeras da Canon, o recurso é acessado pelo segundo menu de disparo, na opção Compensação de exposição/AEB (Auto Exposure Bracketing). Nessa tela, o disco de seleção principal (localizado perto do botão de disparo) regula a faixa de bracketing, que varia entre 1/3 de ponto a 3 pontos, para mais e para menos da posição 0 do fotômetro. O botão SET ativa o recurso. Assim, as próximas três capturas (nos modos de prioridade de abertura ou velocidade) serão feitas com a variação de exposição selecionada.
O ajuste de autobracketing nas câmeras da Nikon geralmente é acessado por um botão dedicado, identificado por BKT. Ao mantê-lo pressionado, o monitor exibe um menu em que é possível regular a quantidade de fotos realizadas e a variação de exposição entre elas. Por meio do menu geral (opção Bracketing/Flash), ainda é possível ajustar em algumas câmeras o atraso entre cada foto e outros tipos de bracketing, como de white balance e de flash.
O autobracketing pode ser usado associado ao disparo contínuo da câmera (opção drive nos modelos da Canon ou continuous shooting na Nikon). Com o recurso, é possível apertar e segurar o disparador uma única vez e a câmera irá registrar a quantidade de fotos definidas no bracketing já com a variação de exposição determinada. Quando terminar de fazer o bracketing, os disparos são interrompidos.
Ajustes para o bracketing
Os dois principais ajustes da exposição são a abertura do diafragma e a velocidade de obturador. Ambos têm influência na quantidade de luz que entra pela objetiva e chega ao sensor da câmera. A abertura do diafragma é uma característica da objetiva, mas é regulada no corpo das DSLRs mais recentes por meio de um disco de seleção. Esse ajuste altera o diâmetro da abertura, pela qual a luz atravessa a lente, e segue uma escala determinada de “pontos”, identificada pelo valor “f/”.
Os pontos considerados “cheios” derivam da escala usada nas objetivas manuais mais antigas e compreendem as posições f/1.4, f/2, f/2.8, f/4, f/5.6, f/8, f/11, f/16, f/22, entre outras. Também é possível selecionar “pontos” fracionados em até 1/3.
Quanto menor é o valor f/, maior é o diâmetro da abertura e, com isso, mais luz passa pela objetiva. A alteração de um ponto para outro mais “aberto” (de f/5.6 para f/4, por exemplo) resulta no dobro da quantidade de luz que chega ao sensor da câmera.
A alteração da abertura interfere ainda na profundidade de campo, região que compreende os planos que parecem em foco na imagem. Quanto mais fechada for a abertura (maior for o valor f/), maior é a profundidade de campo. Quanto mais aberta, menor.
Regulagem de velocidade
Já o ajuste de velocidade de obturador regula o tempo que a câmera registra a imagem. Ele é alterado por um disco de seleção no corpo da câmera e é identificado em frações ou múltiplos de segundo, que se alteram na mesma lógica de pontos cheios e fracionados. Partindo da base de 1s, a velocidade de 1/2s (meio segundo) permite que metade da luz entre na câmera (alteração de um ponto mais fechado). Já a “posição” de 2s faz com que o dobro da luz seja captada (alteração de um ponto mais aberto), e assim por diante.
A escolha da velocidade de obturador também interfere na estética da foto. Velocidades de obturador rápidas, como 1/500s (um quinhentos avos de segundo), permitem “congelar” elementos em movimento, criando uma imagem mais “estática”. Já velocidades mais lentas, como 1s, fazem com que os elementos em movimento apareçam “arrastados”, evidenciando a sensação de dinamismo.
Para entender melhor como esses fundamentos técnicos funcionam, use sua câmera no modo manual e faça experiências. Ora altere a abertura, ora altere a velocidade. Em ambos os casos, verá que isso influi na luminosidade da cena focalizada.
Há ainda possibilidade de uso dos modos automáticos de prioridade de abertura e de velocidade. No modo A/Av (prioridade de abertura), você estabelece o diafragma (pode ser um f/2.8 para desfocar o fundo ou um f/16 para ter mais profundidade de campo) e a câmera ajusta a velocidade ideal. No modo S/Tv (prioridade de velocidade), você escolhe o tempo em que o obturador registrará a imagem (pode ser em 1/250s para captar um nadador em ação ou 2s para tornar “leitosa” a água de um riacho) e a câmera ajustará a abertura ideal.