10-2016
Paixão por algum hobby vira tema de ensaio fotográfico
Dois suíços trabalham juntos na missão de retratar grupos de pessoas que se reúnem por uma afinidade em comum, por mais estranha que seja. Confira fotos e saiba mais
Por Gabrielle Winandy
Ao fazer uma reportagem em 2007 para um jornal local de Basel, no norte da Suíça, Andi Cortellini e Ursula Sprecher começaram a trabalhar juntos. Focados em retratar grupos de pessoas com o mesmo hobby, a dupla estava apenas cumprindo um dever jornalístico. Mas ficaram tão fascinados pelos grupos que encontraram que decidiram continuar a documentar essa afinidade por conta própria. “No começo eram só oito imagens, depois fizemos mais oito… atualmente temos cerca de 60”, comenta Andi, de 49 anos. Batizado de “HobbyBuddies”, o projeto também resultou em um livro.
Embora o trabalho conjunto seja recente, os dois já se conhecem há anos: estagiaram juntos como aprendizes de fotógrafos em um estúdio profissional. Ficaram lá durante quatro anos aprendendo a registrar pessoas, moda, publicidade e gastronomia. Durante esse tempo, iam juntos a uma escola de arte cerca de duas vezes por semana. Como dividem um estúdio próprio desde 2007, era natural que Andi convidasse Ursula, de 44 anos, para fazer parte do projeto. Até porque ela já vinha considerando a ideia de fazer um trabalho justamente sobre esse tema.
Andi e Ursula pesquisam e encontram na internet grupos de pessoas com hobbies em comum em todas as áreas (esporte, tecnologia, trabalhos manuais, entretenimento…). Quando encontram um que apreciam, marcam uma reunião, explicam o projeto e, caso o grupo aceite, desenvolvem uma ideia de fotografia. “Eles sempre são convidados a ver o nosso projeto e a ajudar a desenvolver novas ideias. Às vezes temos de explicar o que queremos fazer, porque não é o que o grupo tinha em mente, mas em geral eles sempre reagem bem ao resultado”, explica Ursula.
Eles contam que no fim da sessão de fotos alguém sempre diz: “sim, agora percebo o que você tinha em mente”. E realmente eles têm tudo planejado. Ao mesmo tempo que cada foto é feita para ser única, ela também é desenvolvida como parte de uma série, explica Andi.
Organização
Depois de determinado como a foto vai ser feita, a dupla procura uma locação, decide quantos membros do grupo vão aparecer — quantas mulheres e quantos homens —, que roupas usarão (e de que cor serão e com quais acessórios). Todos os detalhes são muito importantes. “A atmosfera é essencial. Para a foto de apaixonados por Star Wars, procuramos um local que lembrasse o filme e, quando encontramos um lugar pedregoso, usamos pás para deixar os montes exatamente da forma que queríamos”, conta Andi.
Com tudo acertado, escolhem uma data e um horário (o que é importante principalmente se a foto for externa), determinam como querem a luz e fazem os registros. Mesmo nessa hora podem surgir algumas dificuldades. Quando fizeram as fotos dos adoradores de poodles, passaram por um sufoco para conseguir a atenção dos cachorros. “Eram comportados, mas muito difíceis de controlar. Só conseguimos fazer três imagens”, lembra Ursula.
Outra situação marcante foi para registrar o grupo de sadomasoquismo. “Apesar de ser um assunto delicado, o grupo foi muito aberto com a nossa proposta. Mesmo assim, nem todos quiseram participar da foto, e alguns pediram para ser posicionados de forma que não pudessem ser reconhecidos”, conta Ursula.
Com câmera analógica
Normalmente, o processo todo (da primeira reunião ao ensaio) dura de quatro a seis dias. As fotos são feitas com uma câmera analógica Sinar 4 x 5 polegadas com negativos coloridos. Também trabalham com luzes de estúdio. Depois digitalizam o negativo e usam Photoshop para alguns retoques.
Inicialmente, uma foto era publicada toda semana no diário BaslerZeitung, de Basel. Conforme o tempo foi passando, as pessoas começaram a perguntar se um livro seria feito com essas imagens tão exóticas e criativas. Em 2013, a dupla decidiu investir na ideia e a publicação foi lançada com o mesmo nome do projeto, “HobbyBuddies”. Todas as imagens foram feitas no tempo que ambos tinham disponível. O ganha-pão vem do trabalho com publicidade e para capas de livros.
A intenção da dupla é nobre: “Queremos mostrar com o HobbyBuddies que muitas pessoas estão seriamente envolvidas em grupos de interesse de todos os temas possíveis, e que são pessoas de várias classes sociais, várias idades, de diferentes religiões e ambos os sexos”, diz Andi.