09-2016
Controle a velocidade e faça fotos atraentes
Por Diego Meneghetti
A fotografia é uma representação estática de cenas que, na maioria das vezes, têm algum movimento, por menor que seja. Por isso, um dos maiores desafios do fotógrafo é decidir como representar as ações dinâmicas do mundo na imagem gravada pela câmera. Essa decisão, feita anteriormente à captura, permite criar interpretações da realidade, seja de maneira mais fiel possível ou com uma pitada de criatividade.
Mesmo sendo uma imagem estática, a fotografia pode transmitir ou ampliar a sensação de movimento. Isso por conta da estética resultante de cenas que, no jargão fotográfico, são registradas de maneira “congelada” ou “arrastada”. A forma como os movimentos do mundo real serão representados na imagem é baseada no ajuste da velocidade do obturador, também conhecido como tempo de exposição.
No momento do ajuste, o equilíbrio entre sensibilidade ISO, abertura de diafragma e velocidade de obturador determina o quanto de luminosidade irá chegar ao sensor a partir da indicação do fotômetro e da decisão do fotógrafo. Além de ser uma regulagem técnica para dosar a luz, cada um desses ajustes gera efeitos estéticos na imagem.
A possibilidade de alterar a velocidade de obturador, por exemplo, tem resultados bem mais profundos do que apenas controlar a quantidade de luz ou evitar fotos tremidas.
Questão de prioridade
Quando o tema a ser fotografado mostra algum movimento interessante, como ocorre em esportes, cenas de ação ou em outros assuntos dinâmicos, a prioridade do fotógrafo pode ser trabalhar inicialmente com a velocidade do obturador. De forma geral, há uma certa tendência em querer registrar os assuntos dinâmicos de maneira clara e nítida. Isso é feito ao usar velocidades rápidas de obturador, como 1/250s, 1/500s ou ainda mais instantâneas.
É possível notar essa predisposição natural do fotógrafo para usar tempo de exposição rápido o suficiente para congelar a ação, a fim de visualizar na imagem os movimentos que são difíceis de se notar no mundo real. Esse fato remonta ao trabalho do fotógrafo inglês Eadweard Muybridge, que no final do século 19 desenvolveu uma técnica para capturar o movimento do galope de um cavalo em vários fotogramas, cada um com a ação do animal congelada em uma posição. Na época, o experimento pretendia comprovar que, durante certos instantes do galope, o cavalo fica com as quatro patas fora do chão, o que é muito difícil de ser percebido a olho nu.
Essa vontade de congelar na foto as ações do mundo só aumentou em popularidade. Visualizar de forma nítida os movimentos de um atleta durante uma prova de velocidade, o salto de um animal selvagem ou ainda o voo de um pássaro são situações que geralmente rendem belas fotos.
Velocidade rápida
De forma geral, um tempo de exposição de 1/250s é suficiente para congelar movimentos cotidianos, como pessoas andando na rua ou carros em movimento, ao mesmo tempo em que proporciona boa profundidade de campo. Quanto mais veloz for a ação, mais rápida será a velocidade necessária para congelar os movimentos da cena. Vale a pena também testar velocidades mais extremas para verificar qual o efeito delas na imagem.
Contudo, o tempo de obturador necessário para congelar um assunto dinâmico não depende apenas da velocidade do objeto, mas também da área que ele ocupa na foto (ou seja, da distância entre câmera e objeto e a distância focal da lente) e da direção em que o movimento ocorre em relação à câmera.
Em geral, objetos dinâmicos muito próximos à câmera ou ampliados por meio da teleobjetiva demandam velocidades de obturador ainda mais rápidas para que eles sejam congelados. Da mesma forma, ações que ocorrem lateralmente em relação à câmera (de um lado para outro) são congeladas na imagem com tempos de exposição mais velozes do que ações direcionadas frontalmente à câmera.
Um carro de corrida, por exemplo, vindo em direção ao fotógrafo pode ser congelado na foto com velocidade em torno de 1/125s. Se o mesmo carro, na mesma velocidade, cruzar o campo de visão da câmera de um lado para outro, a velocidade de exposição necessária para congelar o movimento pode subir para cerca de 1/2000s.
Nessa técnica, um ajuste importante é o foco. Na maioria das cenas, o sistema de foco automático da câmera funciona de forma satisfatória, seja em modo pontual, com disparo único, ou em modo servo, no qual a câmera regula a objetiva para acompanhar o assunto em movimento, deixando-o focalizado enquanto o botão disparador é pressionado pela metade.
Em situações em que a ação ocorre de forma muito rápida, pode ser que não haja tempo para o autofoco identificar o objeto, como numa corrida de motocross, em que a moto surge detrás de uma rampa. Em casos como esses, o melhor é prever o movimento da cena, regulando a exposição e focalizando-a manualmente no ponto em que você julga que a ação irá acontecer. Depois, é só esperar o objeto chegar àquele local para fotografar.
Velocidade lenta
Se por um lado, as fotos congeladas permitem visualizar nitidamente os detalhes de uma ação dinâmica, sobretudo daquelas que envolvem movimentos complexos (dando uma ideia do que está acontecendo), por outro, certas cenas congeladas podem não transmitir qualquer sensação de movimento, gerando pouco interesse de quem observa a foto. Exemplo: se um carro de corrida for fotografado com um tempo de exposição tão veloz que suprima toda noção de velocidade, pode ser que a imagem resultante sugira que o carro esteja estacionado.
Assim, definir uma velocidade de obturador para arrastar intencionalmente a foto também é uma técnica interessante para transmitir a sensação de movimento, utilizando uma estética de instantaneidade e urgência.
Esse recurso pode ser útil de duas formas. A primeira, mais artística e menos fiel à realidade, pode deixar todo o movimento da cena levemente arrastado na foto, criando uma confusão interessante. O sucesso de fotos desse tipo depende de como as cores da imagem irão se mesclar e interagir entre si. Durante a década de 1950, o fotógrafo austríaco Ernst Haas foi um dos que exploraram essa técnica em sua série de fotos de rodeios e touradas.
O efeito panning
A segunda maneira de usar a velocidade lenta de captura para transmitir a sensação de movimento envolve manter um objeto nítido enquanto arrasta o plano de fundo, técnica conhecida como panning. Ela consiste em acompanhar o movimento do objeto com a câmera, pressionando o disparador enquanto a ação ocorre. Dessa forma, o objeto ficará congelado (pois está parado em relação ao quadro) enquanto o plano de fundo ficará arrastado.
O tempo de obturador ideal para o panning também depende da velocidade do objeto e das distâncias envolvidas. De forma geral, o uso de teleobjetiva ajuda a separar o objeto do fundo, desfocando ainda mais o segundo plano.
Nas duas técnicas, a prática aprimora o resultado das imagens. Um pouco de tentativa e erro também pode extrapolar os limites e criar fotos interessantes.
Modo prioridade de velocidade
Para trabalhar com o tempo de exposição, a maneira mais simples de operar a câmera é no modo de prioridade de velocidade, identificado pelo símbolo “Tv” nas câmeras da Canon e “S” nas câmeras dos demais fabricantes. Nesse modo, o fotógrafo irá escolher a velocidade do obturador que deseja usar e a câmera fará o devido ajuste da exposição com a abertura da objetiva. Em certas situações de muita ou de pouca luz, é possível que a objetiva não tenha aberturas disponíveis para fazer o correto equilíbrio de luz, a partir da velocidade escolhida. Nesse caso, a câmera irá emitir um aviso no quadro e, se a foto for registrada, poderá ficar sub ou superexposta.
Funcionamento do obturador
O obturador é uma peça mecânica localizada à frente do sensor da DSLR. Na maioria das câmeras, ele é formado por duas cortinas horizontais que trabalham juntas: ao se abrirem, elas permitem que o sensor fique exposto à luz durante um determinado tempo. Nas câmeras com controle manual da exposição, é possível definir por quanto tempo elas ficam abertas. Isso é feito por meio do disco de seleção, que alterna entre diversos pontos definidos em uma escala medida em segundos. Normalmente, as câmeras oferecem tempos de exposição entre 1/4000s e 30s, variando em 1/3 de ponto, além da posição B (Bulb), na qual o obturador fica aberto enquanto o disparador é pressionado. Esse último modo é útil para capturar ações peculiares, como o estouro de fogos de artifício ou o movimento das estrelas no céu, por meio de longa exposição.