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12-2024

IMS anuncia exposição da obra da fotógrafa e ativista sul-africana Zanele Muholi

De  22 de fevereiro a 15 de junho de 2025, o Instituto Moreira Salles exibirá, em sua sede de São Paulo (SP), a obra de um dos nomes seminais da fotografia contemporânea em nível mundial: Zanele Muholi, cujo trabalho documenta a beleza e o ativismo negro e queer da África do Sul. Ela se se define como ativista visual e desde o início dos anos 2000 se  dedica a registrar a vida da comunidade negra LGBTQIAPN+ no seu país e no mundo. Com curadoria de Daniele Queiroz, Thyago Nogueira e Ana Vitório, a exposição reunirá as principais séries fotográficas de Muholi, com destaque para “Faces and Phases”, um extenso mapeamento de pessoas lésbicas, bissexuais, não binárias e transmasculinas feito desde 2006, hoje com centenas de fotos. Ainda serão mostrados “Somnyama Ngomyama”, autorretratos que tratam de temas como racismo, trabalho, eurocentrismo e sexualidade, e “Brave Beauties” – além de trabalhos inéditos produzidos no Brasil.

Um dos autorretratos na série “Somnyama Ngomyama”, trabalho muito elogiado de Muholi­_Yancey Richardson Gallery

Nascida em 19 de julho de 1972, em Durban, Zanele Muholi é a mais nova de cinco filhos – a mãe, Bester Muholi, trabalhava como empregada doméstica. Em 2003, ela terminou o curso de fotografia avançada oferecido pela escola de fotografia e galeria Market Photo Workshop, em Joanesburgo. Um ano depois, realizou sua primeira exposição individual na Galeria de Arte de Joanesburgo. Em 2009, recebeu o título de mestre pela Universidade Ryerson, de Toronto, Canadá. Sua dissertação mapeou a história visual da identidade das lésbicas negras e suas políticas na África do Sul pós-Apartheid.

Em seus autorretratos, a fotógrafa aborda diversos temas, como racismo, sexualidade e eurocentrismo_Yancey Richardson Gallery

Para críticos e curadores, o trabalho de Muholi subverte as representações esteriotipadas. Ela procura desconstruir visões dominantes dos personagens que quer retratar. Por meio de uma visão artística, Muholi tem como meta documentar a jornada da comunidade queer africana para gerações futuras com uma abordagem que foge da negatividade ou da violência predominante, retratando a comunidade LGBTQIAPN+ como indivíduos e como um todo para incentivar sua unidade.

Um dos retratos da série documental “Faces and Phases”, que é realizada desde 2006_Yancey Richardson Gallery

Assim, seu trabalho pode ser considerado como documental, com um foco mais direcionado para os desafios da comunidade de lésbicas negras na África do Sul, de forma a criar imagens mais positivas para combater a violência por motivações homofóbicas que prevalece hoje entre os sul-africanos. A visão negativa de homossexuais na África em geral leva à violência, como assassinato, estupro, e rejeição familiar. O trabalho intitulado “Zukiswa”, de 2010, por exemplo, mostra uma mulher lésbica africana fazendo contato visual com o espectador, exibindo um olhar inabalável de confiança, autoconsciência e determinação –idealizado para incentivar a conscientização, aceitação e positividade da comunidade queer.

Imagem da série “Brave Beauties”, um dos trabalhos que serão exibidos o IMS da Avenida Paulista

As imagens de Zanele Muholi mostram o compromisso dela em lutar contra as injustiças sociais enfrentadas pela pessoas LGBTQIAPN+ na África do Sul e a grave desconexão pós-Apartheid entre a igualdade promovida pela Constituição de 1996 e a atual intolerância e violência. Sua primeira exposição, “Sexualidade visual: apenas metade da foto”, produzida em 2004 pela Galeria de Arte de Joanesburgo, apresentava imagens de sobreviventes de estupro e crimes de ódio. Depois, ela conseguiu penetrar em espaços que antes eram vistos como impossíveis: foi a primeira mulher negra a expor no Stedelijk Museum, em Amsterdã, Holanda, e mostrou seu ttrabalho no também no Brooklyn Museum, em Nova York, EUA, e no Autograph, em Londres, Inglaterra.

A fotógrafa sul-africana de 52 anos nasceu em Durban, uma das principais cidades da África do Sul Com alegria, orgulho, amor, frustração, desencantamento, ironia, compaixão, dor e coragem, Zanele Muholi produz uma história visual contemporânea de uma das comunidades mais vulneráveis e historicamente marginalizadas. “Marcar, mapear e preservar uma comunidade invisível para a posteridade”, ela diz.

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