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07-2024

O milésimo de segundo que fez francês Jerôme  Brouillet entrar para a história da fotografia

Por Sérgio Branco

Existe o fator sorte em fotografia, mas é apenas um dos ingredientes da receita para captar um momento fantástico, extraordinário e que tem seu lugar na história. Foi assim como o fotógrafo francês Jerôme Brouillet, autor da imagem do surfista brasileiro Gabriel Medina em Teahupoo, no Taiti, que viralizou como poucas nas redes sociais e correu o mundo via meios de comunicação, principalmente as da TVs, como a Globo e as americanas ESPN e CNN, que se renderam ao talento do francês com os devidos créditos à Agence France Presse (AFP), dona dos direitos autorais.

A foto de Gabriel Medina viralizou mundialmente e foi divulgada nos principais meios de comunicação do mundo

Jerôme Brouillet é um fotógrafo especializado em surfe, vive há dez anos no Taiti e conhece muito bem as lendárias ondas locais assim como os surfistas que andam por lá, entre eles Gabriel Medina, duas vezes campeão da etapa do circuito mundial de surfe em Teahupoo e quatro vezes finalista. Um dos primeiros repórteres a entrevistar ao vivo um surpreso Brouillet, logo após a enorme repercussão da foto, foi André Galindo, da TV Globo, e nos minutos que o fotógrafo falou com o jornalista foi possível perceber quanto ele é bem preparado, centrado e modesto. A fama repentina em nada parecia tê-lo afetado.

Ítalo Ferreira, campeão olímpico no Japão, em foto de Brouillet, que conhece bem os surfistas brasileiros

Horas depois, em entrevistas publicadas em dois dos mais respeitados jornais do mundo, o americano The New York Times e o britânico The Guardian, Brouillet manteve o discurso profissional, honesto e prático, sem querer “surfar na onda” da fama inesperada. Ele estava em um barco no canal quando fez a foto, uma área de águas mais profundas e calmas, de lado para as ondas, mas sem uma linha de visão clara da ação inicial. Porém, era exatamente onde ele queria estar. A ideia era esperar Medina “sair” da onda, pois como Brouillet conhece o estilo do brasileiro, já esperava algum tipo de comemoração caso ele tivesse sucesso na manobra.

Uma das imagens de surfe produzidas pelo francês Jerôme Brouillet, um especislista no esporte

Medina saiu do tubo com as duas mãos espalmadas, mostrando que queria uma nota 10 – ele já tinha obtido a nota máxima outras cinco vezes nas ondas de Teahupoo. Com Brouillet focado nele, o surfista voou em linha reta acima das ondas, flutuou por milésimos de segundo com o dedo indicador apontando para o céu – o suficiente para que um dos disparos do francês congelasse ao momento mágico – enquanto a prancha, mais lateralmente ao fundo, também voava, presa à sua perna esquerda pela cordinha obrigatória. E, ao contrário do que muita gente pensa, Brouillet não disparou com o máximo da capacidade da sua câmera. Ele fez apenas quatro imagens sequenciais – e a terceira era a imagem extraordinária. O francês explica que quando fotografa em Tehaupoo não usa o modo mais elevado de disparo sequencial, pois senão acumula cerca de 5 mil fotos em um dia, o que ele não gosta, pois dá muito trabalho ficar editando tanta imagem.

O fotógrafo francês mora há dez anos no Taiti e usa sua técnica para aproveitar o visual das ondas de  Tehaupoo

Já tem gente acreditando que essa possa a ser a melhor foto esportiva de todo os tempos, mas pode ser a imagem definitiva dos Jogos Olímpicos de Paris, como definiu revista americana Time. Brouillet, no entanto, estava mais preocupado em seguir na cobertura do surfe olímpico. Ele está dormindo na casa de um amigo perto de Teahupoo e tem acordado às 5h da manhã para fotografar a competição.

Flagrar surfistas voando sobre as ondas parece ser uma das especialidades de Jerôme Brouillet

Antes da foto mágica, o francês tinha cerca de 10 mil seguidores no seu Instagram (@jeromebrouilletphotography) e, em dois dias, passou a 70 mil. Mas ele não se preocupa muito com isso, tanto que nem publicou a imagem de Medina no seu perfil nem no seu site (www,jeromebrouillet.com), onde é possível ver o quanto ele tem talento, técnica e experiência para fotografar surfe. Lá ele se define como uma pessoa que ama os animais, adora ciência e tem paixão pelo mar, algo que surgiu ainda criança, quando passava quase todas as férias no barco da família, apelidado de Chrysaora. Discreto, na sua única foto no site ele está de costas e seu rosto quase não aparece nas redes sociais. No Instagram, a única foto de rosto é de abril de 2017, quando ele tinha 32 anos – nasceu em 1985, em Marselha.

O fotógrafo francês trabalha como colaborador da AFP em coberturas no Taiti e para revistas especializadas

O que pouca se deu conta é que o fotógrafo americano Morgan Maassen, outro nome consagrado no segmento de surfe, também registrou o momento do voo comemorativo de Gabriel Medina, mas de outro ângulo e milésimos de segundo depois da imagem fantástica de Brouillet. Uma excelente imagem que poderia ter sido uma das mais comentadas na Olimpíada caso o francês não tivesse seu instante iluminado.

A imagem de Gabriel Medina captada pelo fotógrafo americano Morgan Maassen milésimos de segundo depois de Brouillet

Jerôme Brouillet teve sorte, claro, mas foi a pitada que faltava na receita com ingredientes que ele absorveu ao longo da carreira profissional. O conhecimento adquirido sobre fotografia, surfe e comportamento do atleta o levaram ao momento mágico, o milésimo de segundo capturado que entrou para a história, uma imagem que ele só viu quando acionou o monitor da câmera para conferir os disparos. 

O fotógrafo francês Jerôme Brouillet, de 39 anos, que ficou conhecido mundialmente pela foto de Gabriel Medina

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