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02-2017

Bola de meia, bola de gude

Meninos empinando pipa, rodando um pião ou jogando bola de gude. Meninas pulando corda ou brincando de amarelinha. Essas cenas, muito comuns pelo Brasil afora até o começo dos anos de 1980, são uma raridade hoje em dia, até mesmo em pequenas cidades. Mas é para essas brincadeiras que o foco do fotógrafo carioca Sandro Vox tem se voltado ultimamente. Ele as encontra em diversas comunidades carentes do Rio de Janeiro (RJ). “Essas brincadeiras vão acabar um dia não só porque a garotada está perdendo o interesse, mas também pela falta de espaço para brincar. Falta um campinho, uma praça”, explica Vox.

Chão de Barro nasceu da preocupação do fotógrafo em documentar e eternizar brincadeiras que fizeram parte de sua infância e que poucos, hoje, dão continuidade. Como trabalha em várias comunidades do Rio dando cursos e palestras sobre fotografia, ele aproveita sempre próximo ao horário do pôr do sol, a partir das 16h, para sair e fotografar. E por volta desse horário também que as crianças já chegaram da escola, fizeram as tarefas e estão liberadas para brincar.

Acompanhado de uma DSLR Nikon com lente zoom 18-55 mm (ou com a Sigma 20-200 mm) e o pouco usado flash SB-800, ele sai à procura da meninada que se diverte como no seu tempo de criança: travando batalhas de empinar pipa, jogando futebol com bola furada, disputando aguerridas partidas de bola de gude, treinando a mira nos jogos de taco e outras formas divertidas de brincar que não precisam de controles com joystick.

O fotógrafo ressalta que sempre tenta pegar a criança sorrindo e se divertindo, pois não é a falta de dinheiro que impede uma criança de ser feliz. O projeto começou há quatro anos e já ganha destaque. Sandro Vox foi convidado para falar sobre ele em palestras e também a participar de projeções em que exibe as imagens ao som da música Bola de Meia, Bola de Gude, de Milton Nascimento.

Fotos no varal

Nascido na comunidade do Acari, na zona norte do Rio, Vox se apaixonou pela fotografia ao ver o vizinho, Mário, pendurar as fotos que fazia no varal para secar – aliás, foi Mário quem fotografou o casamento dos pais dele, seu batizado e a primeira comunhão. O dia em que o vizinho o convidou para vê-lo revelar os negativos, Vox achou aquilo mágico e foi fisgado de vez pelo ofício.

Em 1998, com uma câmera Zenit, se matriculou no curso de fotografia do Instituto Nacional de Ensino. Com a chegada das câmeras digitais, foi estudar na escola Ateliê da Imagem, onde aprendeu a tratar os arquivos digitais e fez uma série de workshops, como de foto de gastronomia.

O sustento com a fotografia veio com a cobertura de eventos sociais, como casamentos. Mas a necessidade de fazer algo para mudar o triste cotidiano das comunidades que sofriam com as chuvas de verão, quando as pessoas perdiam tudo que tinham, o fez apostar no fotojornalismo por um tempo. “Precisava fazer alguém olhar para o que estava ocorrendo nas comunidades e resolvi usar a fotografia”, diz.

Esse olhar direcionado para a carência que o cercava despertou o seu lado documental. Paralelo ao Chão de Barro, Vox desenvolve o ensaio Crack: Chute Essa Pedra, com o qual pretende denunciar o mal que a droga faz. E, além dos projetos sociais, ele é fotógrafo freelancer do time de futebol profissional do América do Rio, continua fazendo eventos sociais e tudo o que aparecer.

 

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